terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A Mulher de Samaria (Por Santo Agostinho)

Veio uma mulher de Samaria buscar água

• Autoria: Agostinho de Hipona (Santo Agostinho)
• Ref. Bíblica: João 4:5-42


Veio uma mulher (Jo 4:7). Esta mulher é figura da Igreja, ainda não justificada, mas a caminho da justificação. É disso que iremos tratar.

A mulher veio sem saber o que ali a esperava; encontrou Jesus, e Jesus dirigiu-lhe a palavra. Vejamos o fato e a razão por que veio uma mulher da Samaria buscar água (Jo 4:7). Os samaritanos não pertenciam ao povo judeu; não eram do povo escolhido. Faz parte do simbolismo da narração que esta mulher, figura da Igreja, tenha vindo de um povo estrangeiro; porque a Igreja viria dos pagãos, dos que não pertenciam à raça judaica.

Ouçamos, portanto, a nós mesmos nas palavras desta mulher, reconheçamo-nos nela e nela demos graças a Deus por nós. Ela era uma figura, não a realidade; começou por ser figura, e tornou-se realidade. Pois acreditou naquele que queria torná-la uma figura de nós mesmos. Veio buscar água. Viera simplesmente para buscar água, como costumam fazer os homens e as mulheres.

Jesus lhe disse: “Dá-me de beber!” Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar algo para comer. A samaritana disse a Jesus: “Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim que sou uma mulher samaritana?” De fato, os judeus não se relacionam com os samaritanos (Jo 4:7-9).

Estais vendo que são estrangeiros. Os judeus de modo algum se serviam dos cântaros dos samaritanos. Como a mulher trazia consigo um cântaro para buscar água, admirou-se que um judeu lhe pedisse de beber, pois os judeus não costumavam fazer isso. Mas aquele que pedia de beber tinha sede da fé daquela mulher.

Escuta agora quem pede de beber. Jesus respondeu: Se conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te diz: “Dá-me de beber”, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva (Jo 4:10).

Pede de beber e promete dar de beber. Apresenta-se como necessitado que espera receber, mas possui em abundância para saciar os outros. Se conhecesses o dom de Deus, diz ele. O dom de Deus é o Espírito Santo. Jesus fala ainda veladamente à mulher, mas pouco a pouco entra em seu coração, e vai lhe ensinando. Que haverá de mais suave e bondoso que esta exortação? Se conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te diz: “Dá-me de beber”, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.

Que água lhe daria ele, senão aquela da qual está escrito: Em vós está a fonte da vida? (Sl 36:10*). Pois, como podem ter sede, os que vêm saciar-se na abundância de vossa morada? (Sl 36:9*).

O Senhor prometia à mulher um alimento forte, prometia saciá-la com o Espírito Santo. Mas ela ainda não compreendia. E, na sua incompreensão, que respondeu? A mulher disse então a Jesus: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem tenha de vir aqui tirar água” (Jo 4:15). A necessidade a obrigava a trabalhar, mas sua fraqueza recusava o trabalho. Se ao menos ela tivesse ouvido aquelas palavras: Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso! (Mt 11:18). Jesus dizia-lhe tudo aquilo para que não se cansasse mais; ela, porém, ainda não compreendia.


In Ioannis Evangelium, Tractatus 15, 10-12.16-17

sábado, 22 de fevereiro de 2014

O Amor "Phíleo"

PARA OS QUE O AMAM:
Selecionados leitores do Blog Palavra a Sério, a paz! Esta postagem que aqui publico é antiga e como  tem surtido bons efeitos em redes sociais e o testemunho a respeito dela tem sido variado e maravilhoso naquilo que diz respeito à edificação pessoal, venho mais uma vez postá-la aqui. Boa leitura!
Disse-lhe terceira vez: Simão,filho de Jonas,amas-me ? Simão entristeceu-se por lhe ter dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas” (João 21:17)

Mas,como está escrito: As coisas que o olho não viu,e o ouvido não ouviu,e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam” (I Coríntios 2:9)


Pedro fazia parte do ciclo íntimo de Jesus e, como tinha um caráter maleável, estava ainda sendo tratado pelo Mestre. Permaneceu inconstante em todo o ministério de Jesus e assim foi até a sua morte na cruz quando o mesmo o negou três vezes.

Mas no capítulo 21 de João, Jesus havia já ressuscitado e se revelado a toda sua igreja e, sendo assim, Pedro seria intimamente tocado pelo Senhor Jesus. Interessante que Pedro estava satisfeito com o que seus olhos viam e com o que seus ouvidos ouviam, pois o mestre estava ali ressurreto e glorificado, tanto que na primeira pergunta de Jesus para ele foi fácil responder: 

Senhor, tu sabes que te amo”.

Mas, como Pedro era bastante maleável, no mesmo capítulo, no versículo 3, Pedro havia dito: “vou pescar”. Ainda não tinha entendido o seu chamado e a sua ordenação e, por pouco, voltava à pesca e ao lugar de onde Cristo havia o tirado. Diante de um momento confuso, Pedro estava regressando ao seu lugar de origem.

Mas Jesus estava ali e tinha um propósito na vida de Pedro, pois, embora seja fácil para nós esquecermos o chamado e as promessas de Deus, o mesmo Deus não muda e mantém firme a sua Palavra. Jesus chamava Pedro, então, para uma conversa que marcaria muito sua vida.

Jesus, diante da congregação, chama Pedro e pergunta: “
Simão Pedro, amas-me?”. 
Jesus queria ouvir da boca de Pedro sobre esse amor. 

Sobre o amor que Jesus questionou a Pedro na primeira e na segunda pergunta é importante afirmar que se trata de um amor interessante e maravilhoso. O termo usado foi “agapao” de “ágape”. Era um termo muito abrangente, tão abrangente que o homem Pedro teve certa facilidade em responder. O termo “agapao” de “ágape” nos ensina sobre um amor muito profundo e remete sempre ao amor de Deus ao homem, amor de Cristo à Igreja, etc. É aquele amor que estamos acostumados a cantar em louvores. Muitos estampam esse amor em camisas, outros falam tão facilmente em seus sermões. É o amor que um dia o Senhor Deus nos amou, por isso não requer de nós tão grande compromisso, afinal, Deus nos amou e isso não muda. Ele nos amou primeiro.
Trata-se também de um amor moral e social, mas, demonstra um amor profundo que levou o próprio Cristo se entregar pela Igreja. Não houve nenhum trabalho nosso para que fosse cumprido o plano da redenção, aliás, a única participação nossa foi no pecado que levou o Filho do Homem à cruz. Então, hoje nos é fácil abrir a boca e dizer: “Senhor, eu te amo”! Muitos fazem com sincera devoção, outros nem tanto.

Naquela circunstancia onde se encontrava Pedro estava fácil e propício responder a essas duas perguntas de Jesus: “te amo”, pois se tratava de um amor ainda superficial para Pedro (mesmo no seu significado profundo).

Muitos têm respondido as duas primeiras perguntas de Cristo, mas não conseguem responder a terceira.

As duas perguntas iniciais estão sendo respondidas nas camisas com inscrições de “Deus é fiel”, “eu amo Jesus”, nas bandeiras e faixas da ‘Marcha pra Jesus’, tem sido respondidas nos shows evangélicos onde muitos choram e se quebrantam de emoção, etc.

Essas duas primeiras perguntas não entristeceram a Pedro porque parecia óbvio responder naquela hora: “Eu te amo, Jesus”, pois Pedro estava ali cara a cara com o seu Mestre e no meio da congregação.
Mas, independente da resposta sendo fácil ou não, Jesus escutou-a com amor e disse: “APASCENTA AS MINHAS OVELHAS”. Jesus estava passando a responsabilidade para a Igreja, pois Ele iria ao Pai. A tarefa de levar o Evangelho e apascentar seria, a partir daquele momento, da Igreja. Mas para que esse trabalho venha a ser feito, temos que conhecer esse amor perguntando nas duas primeiras perguntas. Correspondia ao amor de Cristo à sua Igreja, agora a mesma igreja teria que amar e trabalhar para aqueles que ainda viriam pertencer ao rebanho de Deus, pois eram os amados e escolhidos do Senhor. 

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta
”. (1 Coríntios 13:1-7).

A obra de Deus é realizada com amor. 

Mas a terceira pergunta entristeceu muito a Pedro, porque se tratava já de outro tipo de amor, muito mais envolvente e que, diferente do amor nas duas primeiras perguntas, envolvia nesse a participação do crente. 

“Disse-lhe terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me”?

O amor que foi empregado na terceira pergunta já era diferente das duas primeiras. Tratava-se do amor “phileo”.

Phileo, na verdade, é um resultado de ágape. Ágape é um termo abrangente e conhecido como um amor superior na cultura cristã, porem phileo é o amor ágape na prática diária. É a prova de que se ama de forma ágape. Poderíamos até arriscar dizer que ‘ágapao’ é um amor abrangente e teórico, teológico, ético, social e moral, mas, phileo é a prática disso tudo. Não parte e nem nasce propriamente do homem, mas lhe é dado para assumir sua posição de ‘crente’ e carregar a cruz. Sem esse amor (phileo) não se carrega a cruz de Cristo.

Significa: “gostar muito de alguém”, “querer viver com o outro”, “relacionamento”, “compromisso”, “amizade”, “pacto e amor”, enfim, “relacionamento”.

Jesus então, com a terceira pergunta, não quis saber de Pedro se o mesmo era simplesmente um cristão definido e convencido da verdade, mas quis saber se Pedro o amava a ponto de andar com Ele, se relacionar com Ele, ser amigo, ser íntimo, morrer pelo nome dele.

Isso entristeceu Pedro. Por certo, Pedro não se sentia ainda preparado. Poderíamos conjecturar que Pedro caiu em si nesse momento e viu que não era tão fácil a carreira que havia sido-lhe proposta.

Jesus perguntava dessa forma: “Pedro, quer ser meu amigo” ou “quer ter um relacionamento comigo” ou até mesmo “Pedro, quer viver só para mim”? Responder a essa pergunta é difícil demais...

Pedro nessa hora foi confrontado. Pois seu amor ainda não era um amor capaz de fazê-lo renunciar tudo (inclusive a vida) para viver a vida de Cristo.

Mas, seu coração se fez humilde e o seu homem interior já quebrantado com a presença de Deus disse: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo”. Pois era isso que Pedro, mesmo não sendo tão capaz, queria.

Ele tinha o desejo de servir ao Senhor com toda a sua alma e entendimento. Foi assim também com Davi no salmo 139:23: “
sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos”.

Inclusive, na terceira pergunta Jesus se dirigiu mais intimamente, tocou na identidade de Pedro: “Simão, filho de Jonas”. Só quem teve a identidade confrontada um dia pelo Espírito Santo, pode realizar a obra do Senhor, fazendo a sua vontade e dele ser amigo. Na terceira pergunta, quando Jesus usava a expressão "phileo" e perguntava Pedro se esse queria, de fato, um relacionamento com Ele, Pedro se via incapaz de tal voluntariedade e é nesse momento que a graça de Deus se mostra, pois, sem dúvidas, é Deus quem nos escolhe e não nós a Deus. 
Mas, antes, há a remissão dos pecados, logo, o chamado para o serviço na obra de Deus. A resposta de Pedro ("senhor tu sabes tudo") mostra exatamente o seguinte: Deus conhece o que há e o que se passa em nós e apenas o seu poder remidor é capaz de restaurar e vivificar, de fato, o nosso coração. A tristeza de Pedro não foi vã diante da terceira pergunta. O verdadeiro arrependimento é marcado pela tristeza, aliás, a tristeza gera o arrependimento e, com Pedro, não foi diferente: para cuidar das coisas de Deus e estar inserido em seu plano e participar do seu Reino, o velho Pedro teria que morrer e um novo Pedro ressurgir. Não foi sem querer que Jesus disse o nome e, ainda, citou a origem de Pedro. Ele queria mostrar que o Pedro pescador ainda estava ali. Mas Jesus queria gerar em Pedro um novo viver.

Uma curiosidade: Jonas significa Pomba, uma tipologia do Espírito Santo. Quem tem nos gerado para uma nova vida? Se nascermos da água e do Espírito estamos prontos para apascentar (trabalhar para o nosso Senhor). Para respondermos a pergunta que Jesus fez a Pedro, devemos estar cheios da benção do Espírito Santo e viver em renovação, em novidade de vida.

O amor que Deus quer do homem é o amor phileo. Ele quer que o homem se relacione com Ele, tenha um compromisso com ele, seja amigo dele.

Já não vos chamarei servos [...] mas tenho vos chamado amigos [...]” (João 15:15)

É com esse amor que estaremos aptos para atender a vontade de Deus e cumprir o seu chamado em nossas vidas: “Apascenta as minhas ovelhas”. É um compromisso selado.

É com esse amor que podemos ser instrumentos do Senhor; é com este amor que caminhamos em intimidade com Deus e em comunhão com o Espírito Santo. É com esse amor que entendemos o que, de fato, é a obra do Espírito e quão suave ela é.

No versículo 18 do capitulo 21 de João, Jesus ainda dá pistas a Pedro de como ele morreria pelo Evangelho e ainda diz no verso 19: “segue-me”.

Jesus tem chamado para sua boa obra pessoas que vão o amar e honrar com suas próprias vidas, Ele tem chamado pessoas que vão (de verdade) renunciar a tudo pelo amor de seu Nome.

Independente das respostas de Pedro e das perguntas de Jesus nas três oportunidades, o pedido do Senhor foi o mesmo: APASCENTA OS MEUS CORDEIROS. O Senhor nos chamou para viver em favor de seu Reino e isso requer TRABALHO e serviço. Apascentar cordeiros era o chamado específico de Pedro. Deus, da mesma forma, tem um chamado específico para cada um de nós. Temos que realizar a obra...

Mas isso só será possível se estivermos firmes no amor ‘phileo’, a saber, no amor de Cristo e no genuíno envolvimento com as questões do Reino.

Finalizando:

Paulo, ao dizer que “aquilo que o ouvido não ouviu, nem o olho viu e o que não subiu ao coração do homem é o que Deus tem preparado”, ele quis mostrar que: Tudo que o Senhor tem preparado para aqueles que o amam está longe da pura razão e da limitação humana, mas, para aqueles que vivem no amor ‘phileo’, íntimos e amigos de Deus, receberão com certeza.

“Deus preparou para aqueles que o amam”

PARA ESSES, DEUS PREPAROU TUDO !

Não se turbe o vosso coração [...] na casa de meu pai há muitas moradas [...] eu vou preparar-vos lugar...” João 14:1-2-3

Gabriel Felipe M. Rocha


sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

CONTINUISMO



Amados e selecionados leitores do Blog Palavra a Sério, a paz! Revirando alguns artigos teológicos que tenho em meus arquivos escolares, achei este texto de Sam Storms muito interessante sobre o 'continuísmo'. Como eu ainda estou escrevendo um estudo bíblico e doutrinário que pretendo postar em março, posto este. Vale a pena ler!
 "E então, por que sou continuísta? Seguem minhas razões (por favor note que escrevi diversos artigos que fornecem ampla evidência para os pontos que defendo, mas a limitação de espaço me permite apenas citá-los nominalmente. Todos podem ser encontrados no meu site.

Deixe-me começar com a presença sólida, certamente difundida e inteiramente positiva de todos os dons espirituais por todo o Novo Testamento (NT). Os problemas que surgiram na igreja de Corinto não se deram por conta dos dons espirituais, mas por pessoas imaturas. As advertências de Paulo não se referiam aos dons de Deus mas, sim, à distorção infantil, ambiciosa e orgulhosa da parte de alguns.

Além do mais, começando com o Pentecoste e percorrendo todo o livro de Atos, vemos que toda vez que o Espírito era derramado sobre os novos convertidos, eles experimentavam do seu carisma. Não há nada que indique que esses fenômenos eram restritos a eles e à época. Tais manifestações parecem ser tanto difundidas quanto comuns na igreja do NT. Os cristãos em Roma (Rm 12), Corinto (1 Co 12-14), Samaria (At 8), Cesareia (At 10), Antioquia (At 13), Éfeso (At 19), Tessalônica (1 Ts 5) e Galácia (Gl 3) experimentaram dos dons de milagres e revelação. É difícil imaginar como os autores do NT poderiam ter falado mais claramente sobre como deveria ser o Cristianismo da Nova Aliança. Em outras palavras, o fardo de provar o contrário está com o cessacionista. Se certos dons de uma classe especial cessaram, a responsabilidade de prová-lo depende dele ou dela.

Evidência extensa

 Gostaria de apontar também a extensa evidência neotestamentária dos chamados dons milagrosos entre cristãos que não são apóstolos. Ou seja, vários homens e mulheres que não eram apóstolos, jovens e anciãos, em toda a extensão do império romano exerciam de maneira consistente esses dons do Espírito (e Estevão e Felipe ministravam no poder de sinais e maravilhas). Aqueles que exerciam os dons miraculosos mas não eram apóstolos são (1) os 70 que foram comissionados em Lucas 10.9, 19-20; (2) pelo menos 108 pessoas dentre os 120 que estavam reunidos no salão superior no dia de Pentecostes, (3) Estevão (At 6,7); (4) Felipe (At 8); (5) Ananias (At 9); (6) membros da igreja de Antioquia (At 13); (7) convertidos anônimos em Éfeso (At 19.6); (8) mulheres em Cesareia (At 21.8,9); (9) os irmãos sem nome de Gálatas 3.5; (10) crentes em Roma (Rm 12.6-8); (11) crentes em Corinto (1 Co 12-14); e (12) cristãos em Tessalônica (1 Ts 5.19,20).

Também temos que dar espaço para o objetivo explícito e frequentemente repetido do propósito dos carismas: nomeadamente, a edificação do corpo de Cristo (1 Co 12.7; 14.3; 26). Nada do que leio no NT ou do que vejo na condição da igreja em qualquer era, passada ou presente, me leva a crer que progredimos além da necessidade pela edificação – e consequentemente além da necessidade pela contribuição dos carismas. Eu confesso livremente que os dons espirituais foram essenciais para o nascimento da igreja, mas por que eles seriam menos importantes ou necessários para o crescimento e amadurecimento contínuos?

Há também a continuidade fundamental ou o relacionamento espiritual orgânico entre a igreja de Atos e a igreja dos séculos subsequentes. Ninguém nega que houve uma era ou período no começo da igreja que chamemos de “apostólica”. Temos que reconhecer o significado da presença pessoal e física dos apóstolos e o seu papel único na formação da fundação da igreja nos primeiros séculos. Mas não há no NT qualquer coisa que sugira que certos dons espirituais eram exclusiva e unicamente ligados a eles ou que os dons se encerraram com a partida deles. A igreja universal ou corpo de Cristo que foi estabelecida por meio do ministério dos apóstolos é a mesma igreja universal e corpo de Cristo hoje. Estamos juntos com Paulo, Pedro, Silas, Lídia, Priscila e Lucas, membros do mesmo corpo de Cristo.

Bem ligado ao ponto anterior é o que Pedro diz em Atos 2, referente aos ditos dons miraculosos como característicos da era pactual da igreja. Como já disse D. A. Carson: “A vinda do Espírito não está associada meramente com o nascimento da nova era, mas com a sua presença, não meramente com o Pentecoste, mas com todo o período do Pentecoste até o retorno de Jesus, o Messias” (em A Manifestação do Espírito, Ed. Vida Nova). Novamente, os dons de profecia e línguas (At 2) não são retratados como mera inauguração da nova era pactual, mas para caracterizá-la (não esqueçamos de que a era atual da igreja equivale aos “últimos dias”).

Devemos também notar 1 Coríntios 13.8-12. Nesse texto Paulo certifica que os dons espirituais não “passarão” (ver v.8-10) até a vinda do “perfeito”. Se o “perfeito” é realmente a consumação do propósito redentivo de Deus tal qual expressado pelo novo céu e nova terra seguindo a volta de Cristo, podemos confiantemente esperar que Ele continue a abençoar e capacitar a sua igreja com dons até aquela hora.

Um ponto semelhante aparece em Efésios 4.11-14. Aqui, Paulo fala de dons espirituais (junto com o ofício de apóstolo) – e particularmente dos dons de profecia, evangelismo, pastoreio e ensino – como construção da igreja “até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo” (V. 13, NVI – grifos meus). Já que a plenitude de Cristo certamente ainda não foi atingida pela igreja, podemos antecipar com confiança a presença e o poder de tais dons até que aquele dia chegue.

Gostaria de também apontar a ausência de uma noção explícita ou implícita de que devemos enxergar os dons espirituais de maneira diferente que outras práticas e ministérios neotestamentários retratados como essenciais à vida e ao bem estar da igreja. Quando lemos o NT, parece evidente que a disciplina na igreja deve ser praticada em nossas assembleias atuais, devemos celebrar a mesa do Senhor e o batismo com água e que os requerimentos para o exercício do ancião como descrito nas epístolas pastorais ainda determinam como a vida na igreja deve ser levada, citando apenas alguns. Quais boas razões exegéticas ou teológicas podem ser dadas para explicar por que devemos tratar a presença e operação dos dons espirituais de maneira diferente?

Testemunho consistente

 Ao contrário do que muitos pensam, há um testemunho consistente ao longo de grande parte da história da Igreja referente à operação dos dons miraculosos do Espírito. Simplesmente não é verdade que os dons cessaram ou desapareceram da vida no começo da Igreja após a morte do último apóstolo. O espaço não permite citar a evidência maciça concernente, então me referirei a quatro artigos que escrevi com uma documentação extensa (ver Spiritual Gifts in Church History).

Cessacionistas frequentemente argumentam que sinais e maravilhas, assim como certos dons, serviram somente para confirmar e autenticar o grupo original de apóstolos e que quando esses morreram, também cessaram os dons. A verdade é que nenhum texto bíblico (nem mesmo Hb 2.4 ou 2 Co 12.12, dois textos que explico em artigos nowww.samstorms.com) chega a dizer que sinais e maravilhas ou certos dons espirituais serviram para autenticar os apóstolos. Sinais e maravilhas autenticaram Jesus e a mensagem apostólica referente a ele. Se sinais e maravilhas foram designados exclusivamente para autenticar os apóstolos, não temos como explicar porque pessoas que não eram apóstolos (como Felipe e Estevão) foram capacitados a exercê-los (ver especialmente 1 Co 12.8-10, onde o “dom” de “milagres”, entre outros, foi dado a crentes medianos, que não eram apóstolos).

Portanto, essa é uma boa razão para ser cessacionista apenas se você puder demonstrar que a autenticação ou testificação da mensagem apostólica era o propósito único e exclusivo de tais demonstrações de poder divino. Todavia, em nenhum lugar do NT o propósito ou função dos milagres ou carismas é reduzido à testificação. O agir miraculoso, em qualquer forma que seja, servia a outros propósitos distintos: doxológico (para glorificar a Deus: Jo 2.11, 9.3, 11.4, 11.40 e Mt 15.29-31); evangelístico (para preparar o caminho para que o Evangelho fosse conhecido: ver At 9.32-43); pastoral (como expressão de compaixão e amor e cuidado com as ovelhas: Mt 14.14; Mc 1.40,41); e edificação (para levantar e fortalecer os crentes: 1 Co 12.7 e o “bem comum”; 1 Co 14.3-5, 26).

Todos os dons do Espírito, seja línguas ou ensino, profecia ou misericórdia, cura ou auxílio, foram dados (dentre outras razões) para a edificação, fortalecimento, encorajamento, instrução, consolo e santificação do corpo de Cristo. Então, mesmo que o ministério dos dons miraculosos para atestar e autenticar tenha cessado, um ponto que concedo apenas para efeitos de argumentação, tais dons teriam que continuar a funcionar na igreja pelas outras razões citadas.

Ainda final e suficiente

Talvez a objeção mais comum dos cessacionistas seja que reconhecer a validade dos dons de revelação, como profecia e palavra de conhecimento, necessariamente compromete a finalidade e suficiência das Escrituras Sagradas. Mas esse argumento é baseado na falsa suposição de que esses dons nos dão verdades infalíveis com igual autoridade à do próprio texto bíblico (veja o meu artigo “Why NT Prophecy Does NOT Result in ‘Scripture-Quality’ Revelatory Words“).

Também é mencionado o apelo cessacionista a Efésios 2.20, como se esse texto descrevesse todo o possível ministério profético. O argumento diz que os dons de revelação como profecia foram unicamente ligados aos apóstolos e portanto designados para funcionar apenas durante o dito período de fundação da igreja nos primeiros séculos. Abordo esta visão fundamentalmente errônea em detalhe aqui. Um exame cuidadoso das evidências bíblicas referentes tanto à natureza do dom de profecia quanto à sua extensa presença entre cristãos indica que este dom servia a outros propósitos muito além da fundação da igreja. Portanto, nem a morte dos apóstolos, nem o desenvolvimento da igreja além dos seus primeiros séculos têm importância sobre a validade de profecias para hoje. Também é citado com frequência o argumento do agrupamento, por assim dizer, que diz que os fenômenos miraculosos e sobrenaturais foram supostamente concentrados ou agrupados em períodos específicos na história redentora. Já abordei este argumento num outro artigo e mostrei que é falso.

Finalmente, apesar de tecnicamente não ser uma razão ou argumento para ser um continuísta, não posso ignorar a experiência. O fato de que eu já vi todos os dons espirituais sendo operados, de ter testado e confirmado e os experimentado em primeira mão em inúmeras ocasiões. Como afirmei, esta não é tanto uma razão para se tornar um continuísta, e mais uma confirmação (apesar de não ser infalível) da validade dessa decisão. A experiência, isolada do texto bíblico, prova muito pouco. Mas a experiência deve ser considerada, especialmente se esta ilustra ou incorpora aquilo que vemos na palavra de Deus".

SAM STORMS é pastor há mais de 40 anos, e atualmente lidera a Bridgeway Church, em Oklahoma City. Foi professor de Teologia no Wheaton College e fundador do ministério Enjoying God, além de autor e editor de mais de 20 livros. É casado com Ann, tem dois filhos e quatro netos. 

Nota – Abertos para Reforma: texto traduzido com autorização de The Gospel Coalition, publicado originalmente no dia 23 de janeiro de 2014

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

CRISTO É O ELEITO (refutando o calvinismo)

CRISTO É O ELEITO E, SE VOCÊ ESTÁ EM CRISTO, VOCÊ É ELEITO NELE

A presente postagem tem foco em Isaías e Efésios. Falei há um tempo que escreveria como para mim é difícil imaginar como alguém pode ler a Carta aos Efésios de um ponto de vista calvinista, mas não escrevi ainda, então fiquem com este comentário por enquanto.

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Cristo é o eleito e, se você está em Cristo, você é eleito Nele.

"Eis aqui o Meu servo, a Quem sustenho, o Meu Eleito, em Quem se apraz a Minha alma; pus o Meu espírito sobre Ele; Ele trará justiça aos gentios.


Não clamará, não Se exaltará, nem fará ouvir a Sua voz na praça. A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega; com verdade trará justiça. Não faltará, nem será quebrantado, até que ponha na terra a justiça; e as ilhas aguardarão a Sua lei.

Assim diz Deus, o Senhor, que criou os céus, e os estendeu, e espraiou a terra, e a tudo quanto produz; que dá a respiração ao povo que nela está, e o espírito aos que andam nela.

Eu, o Senhor, Te chamei em justiça, e Te tomarei pela mão, e Te guardarei, e Te darei por aliança do povo, e para luz dos gentios. Para abrir os olhos dos cegos, para tirar da prisão os presos, e do cárcere os que jazem em trevas." - Isaías 42:1-7


Deus não elege certos indivíduos para a salvação; em vez disso, Ele escolheu eleger Seu Filho, Cristo, para ser o "veículo" que traz muitos de nós à salvação. O Novo Testamento ensina que Cristo é um Corpo de muitos membros, Corpo do qual Jesus é a Cabeça. Se você é um membro daquele Corpo, então você está "em Cristo", e é estando "em Cristo" que participamos Dele e de Sua eleição. Nós somos eleitos "em Cristo" porque Ele é o Escolhido de Deus, e contanto que estejamos "em Cristo" pela fé, também seremos escolhidos e eleitos em Cristo.

Antes de estarmos "em Cristo", a Bíblia diz que estamos "em Adão", e que "em Adão" todos morreram, mas "em Cristo" fomos todos feitos vivos (1 Cor 15:22). Estando "em Cristo", recebemos um status que não tínhamos antes de sermos parte de Seu Corpo, qual seja, o de eleitos "Nele".

Por que calvinistas não podem dizer que fomos feitos justos porque Deus nos escolheu individualmente para sermos justos (talvez alguns o digam!)? Ninguém pode argumentar que somos justos em qualquer base individual, pois a Bíblia claramente ensina que somos feitos justos "em Cristo". É a justiça de Cristo de que desfrutamos, não nossa própria e individual justiça.

Calvinistas também apontam Efésios 1 como um texto-prova para a eleição individual, mas em lugar nenhum a Bíblia diz, especialmente não em Efésios 1, que somos escolhidos individualmente. A eleição sempre é condicionada ao estar "no" Eleito/Escolhido, que é Cristo. Considere estes versos de Efésios 1:

"[1] Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus:

[4] Como também nos elegeu Nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante Dele em amor;

[7] Em quem temos a redenção pelo Seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da Sua graça,

[9] Descobrindo-nos o mistério da Sua vontade, segundo o Seu beneplácito, que propusera em Si mesmo,

[10] De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra;

[11] Nele, digo, em Quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito Daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade;

[12] Com o fim de sermos para louvor da Sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo;

[13] Em Quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo Nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa;"

Claramente, esses versos não falam de quaisquer pessoas individualmente, visto que pronomes como "nós" e "nos" são usados por toda a passagem. Essas palavras indicam um Corpo corporativo, que está "em Cristo" ou "Nele". 

Assim, todas as promessas feitas aos eleitos de Deus são cumpridas "em Cristo", e somente quando estamos "em Cristo", podemos nós também desfrutar dos benefícios dessas promessas. 

Da mesma forma como Deus escolheu Israel como uma nação corporativa para ser Seu Povo Escolhido, uma nação feita de indivíduos que vivam em Israel, assim é com Cristo. Nós somos uma nação escolhida, santa, "em Cristo", porque estamos Nele.


(Brian Cook)


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A Revelação de Jesus Cristo



Por Gabriel Felipe M. Rocha

Textos base: João 14: 26 e Gálatas 1: 12.

Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas [...] (João 14: 26);

Porque não recebi e nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo” (Gálatas 1: 12).

É muito comum ouvirmos no meio evangélico - principalmente no meio pentecostal – o termo “revelação” e, muitas das vezes, o termo está sendo empregado em referência a um possível dom espiritual, uma mensagem ou um anúncio especial da parte de Deus. Pois bem, é comum ouvirmos isso e, por ter se tornado algo comum, tornou-se também perigoso para a saúde espiritual de algumas igrejas que se lançam cada vez mais - desenfreadamente - aos experimentalismos estranhos em nome da confissão pentecostal e em nome do próprio Espírito Santo. Muitas igrejas e seitas cristãs colocam a “revelação” em referência a uma nova doutrina ou uma nova prática dita “revelada” por Deus. Mas, destrutivamente, muitas dessas “revelações” vão contra a sã doutrina de Jesus Cristo e configuram-se em heresias sem fim.

Por outro lado, - e com a Bíblia na mão – não podemos ignorar que, de fato, o Espírito Santo atua (ou deve atuar) de forma operante na Igreja de Jesus Cristo (quando emprego aqui “Igreja”, não trato exatamente de uma denominação religiosa, mas sim do Corpo de Cristo identificado na particularidade de cada crente genuíno e na unidade espiritual dos mesmos). O Espírito Santo deve ser o guia, o direcionador e o professor da Igreja. Enganam-se os que pensam que o atuar do Espírito na igreja se dá apenas em operações visíveis de curas, línguas, visões, revelações, etc. Aliás, o Espírito Santo deve ser o agente indispensável da Igreja na oposição ao pecado e à heresia, no ensino da Palavra de Deus, no genuíno avivamento, na santificação do crente, no aperfeiçoamento do Corpo, na distribuição e aperfeiçoamento dons espirituais, na vivificação, iluminação e revelação da Palavra expositiva, no guiar das missões evangelísticas, no conceder da sabedoria e ordem nos cultos, no discernimento espiritual, no crescimento particular do crente, na libertação do neófito, no louvor entoado, na escolha e levantamento de cargos eclesiásticos, na direção dos atos da igreja local ou organizacional, etc. Sem a presença do Espírito Santo na igreja, existirá apenas ortodoxia morta ou, por outro lado, manifestações ditas pentecostais, mas sem a verdadeira operação do Espírito divino. Aliás, onde não há a operação do Santo Espírito de Deus, só pode haver dois outros tipos de espírito: o humano e o satânico. Isso é sério!

Mas, de fato, a revelação tem um lugar no seio da Igreja e devemos entender melhor sobre a mesma:
Trago aqui um conceito básico de “revelação”: Revelação divina é a denominação, de modo genérico, para todo conhecimento transmitido ao homem diretamente por Deus (muitas vezes o meio por onde este conhecimento foi passado também é chamado assim). A revelação é o ato de revelar ou desvendar ou tornar algo claro ou óbvio e compreensível por meio de uma comunicação ativa ou passiva com a Divindade. A Revelação pode originar-se diretamente de uma divindade ou por um intercessor ou agente, como um anjo ou santidade; alguém que tenha experienciado tal contato é denominado profeta. (fonte: Wikipédia)

No contexto de Gálatas, Paulo foi bem enfático e também severo quanto ao desvio da fé mediante os “novos ensinamentos” inseridos no Corpo por meio de religiosos e legalistas que ainda não haviam se contentado com o Evangelho (o vinho novo). Nesse contexto, Paulo assevera: “se alguém anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema” (Gl 1:9). E ainda afirma que seu apostolado é por causa divina e não humana e o teor de sua pregação é espiritual e não terreno (Gl 1: 10,11) e, sendo dessa forma, não tinha a obrigação de agradar os homens e nem ao sistema legalista que imperava ali no seu tempo, mas sim a Deus (somente a Deus a glória). Para deixar entendido e concluído, Paulo diz no verso 12 que o que aprendeu (o Evangelho) não foi por meio dos ensinamentos humanos, mas sim pela revelação do Cristo.

Analisando o texto original, percebi a tamanha riqueza contida nessa afirmação de Paulo.

A palavra usada por Paulo “aprendi” no grego é “didaskô” que corresponde ao verbo “ensinar”, “aprender”, “aconselhar”. Esse termo (“didaskô”) tem ligação com o termo grego “didachê”, usado também nos textos originais para definir “doutrina”.

Portanto, Paulo dizia sem deixar dúvidas que a doutrina que ele pregava não era uma doutrina humana, proveniente dos homens e aprendida pelos mestres acadêmicos, mas era proveniente da “revelação” de Jesus Cristo. E, como sabemos, o agente revelador no seio da Igreja de Jesus Cristo é o próprio Espírito Santo, portanto, o Espírito divino revela a Pessoa de Jesus Cristo (revela à Igreja o Cristo glorificado). E a Igreja é comissionada para revelar – e anunciar – ao mundo o Cristo por meio da operação (obra) do Espírito Santo. (Ver em João 17: 21,22 e 23). Portanto, a mensagem do Evangelho, o anúncio do Cristo é através da ação espiritual. Como foi na experiência da Igreja descrita em Atos, a Igreja de hoje deve buscar a sensibilidade para ouvir de forma cada vez mais aguçada a voz do Espírito para que cada vez mais ela se ajuste ao projeto revelado por Deus nas Escrituras, a saber, a redenção humana (“[...] ouça o que o Espírito diz às igrejas...” /Ap. 2:7).

No original, Paulo expõe a idéia de que a “revelação” de Jesus Cristo é a causadora da sua aprendizagem e do teor de sua mensagem. Mas qual foi a revelação de Jesus Cristo a Paulo?
O contexto não nos permite afirmar que a revelação de Jesus Cristo que Paulo cita na carta aos Gálatas era a somente revelação de Cristo na experiência pelo caminho de Damasco quando o mesmo Cristo lhe aparecera numa manifestação espiritual (Atos 9: 3 ao 7). Mas a ideia contida no contexto é a de que Paulo aprendeu não no ato da primeira experiência com o Senhor Jesus, mas no processo dinâmico da revelação de Jesus Cristo, Por Jesus Cristo e em Jesus Cristo. Na santificação diária e na disposição para o serviço, o Deus vivo falava...

Isso corrobora com o que o mesmo Jesus Cristo havia prometido em João 14: 26: “[...] aquele Consolador, o Espírito Santo [...] vos ensinará todas as coisas [...]”.

Algumas das tantas operações do Espírito Santo no seio da Igreja de Jesus Cristo são: a consolidação doutrinária (uma só mente e um só coração), promoção da unidade do Corpo e do crescimento do mesmo e o aperfeiçoamento doutrinário dentro da Igreja na medida em que essa permite a operação do Espírito Santo e o tem não como um parceiro apenas na realização da obra de Cristo, mas como o guia indispensável e condutor infalível.

Contudo, não podemos dizer que o mesmo Espírito “revela novas coisas”, coisas essas que ultrapassam a sã doutrina de Jesus Cristo. Mas apenas ensina e aperfeiçoa aquilo que na Palavra de Deus já se mostra. Da mesma forma, a obra do Espírito Santo não se limita ao tempo histórico e se perfaz sob um viés profético e, na perspectiva da profecia, o Consolador Espírito Santo faz notória sua obra de redenção. Nesse contexto, Ele ensina, revela, aperfeiçoa e direciona como um capitão que dita estratégias aos seus soldados em meio ao combate e campanha proposta. Muitas igrejas atingem níveis de aperfeiçoamento diferente e isso configura a diversidade de igrejas e doutrinas (algo que é perigoso), mas em muitas igrejas sérias e compromissadas com a Palavra da Verdade, vemos as diferenças em algumas colocações doutrinárias, mas vemos uma unidade: o Cristo, seu batismo e seu exemplo. Contudo, o Espírito Santo ensina, adverte, corrige, exorta, opõe e consolida.

No entanto, nem tudo é do Espírito de Deus. Muitas coisas surgem em algumas igrejas e nada tem em comum com o plano profético de Deus. Aí se configura a heresia e, com a heresia, temos a apostasia.

Antes de falarmos aqui da apostasia e da heresia, vamos entender o verdadeiro sentido do termo “profético”.
O Significado da Palavra
O termo mais antigo, no hebraico do Velho Testamento, para profeta ou ‘profético’ é roeh, que quer dizer vidente. Outra palavra, que surgiu depois, é nabi’, aquele que fala, um porta-voz. Nabi’ vem de uma raiz que significa levantar-se, vir à luz ou inchar-se. É relacionada com a palavra para um ribeiro borbulhante e com o verbo jorrar, com o sentido de proferir abundantes sons ou palavras (Pv 18.4).
Esta idéia pode ter um sentido passivo, como de alguém que se faz borbulhar pelo Espírito de Deus, que é inspirado por ele. O sentido mais correto, porém, é ativo e contínuo: alguém que jorra as palavras de Deus, um divulgador divinamente inspirado, um anunciador ou porta-voz (Êx 7.1).
Portanto, há um aspecto anterior, passivo e receptivo no profeta: ele vê. E há um aspecto ativo e comunicativo: ele fala. Antes de poder funcionar como boca ou comunicador, ele precisa receber revelação, percepção e visão; precisa “borbulhar” com os propósitos e sentimentos do coração de Deus.
“Então disse eu: Não me lembrarei dele, e não falarei mais no seu nome; mas isso foi no meu coração como fogo ardente, encerrado nos meus ossos; e estou fatigado de sofrer e não posso” (Jr 20.9; ver também Jr 6.11).
“Eu, porém, estou cheio do poder do Espírito do Senhor, cheio de juízo e de força, para declarar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado” (Mq 3.8).

Pois bem, mas um conteúdo importante da profecia é: trazer de volta para Deus, ou, chamar de volta para Deus. Veja que todos os profetas da Bíblia ‘chamaram de volta para Deus’, inclusive o próprio João Batista. Nessa perspectiva, o termo “profético” se relaciona com o termo “avivamento” que, basicamente, significa: “voltar-se para Deus” após o ato de “receber a vida de Deus (vivificar/ avivar)”. Então, dessa forma, a verdadeira profecia chama o homem para o avivamento, para voltar-se ao seu Criador.

Nesse mesmo horizonte é que podemos chamar a Bíblia de profética, pois ela, em seu conteúdo revelado, chama o homem de volta para Deus e sua chave hermenêutica fundamental é o Cristo e seu sangue – que trouxe pelo seu pacto sacrifical o homem de volta para Deus.

Sendo assim, a Bíblia é um livro literariamente e espiritualmente profético, pois é a revelação do projeto de redenção de Deus cuja centralidade está toda em Jesus Cristo, o Verbo de Deus, a verdadeira “Palavra Revelada”. Por que é profética? Porque revela a salvação em Cristo. O ato salvífico de Cristo se resume em: trazer o homem de volta para Deus, logo, o conteúdo da Bíblia é profético. Aliás, a salvação é profética, pois parte do pressuposto bíblico que Deus programou tal projeto na Eternidade e lá elegeu o seu povo para herdar a salvação e a glória em Cristo. Tal projeto foi revelado em Jesus Cristo. Não é à toa que a figura do sangue percorre por toda a Bíblia, mostrando, conforme nos explica o autor de Hebreus, que viria o “Perfeito” (Cristo). Isso sustenta a frase de Cristo: “examinai as Escrituras, pois elas de mim testificam”. Como “de mim testificam”? Pelas figuras e tipos. Onde entra a interpretação e a “revelação” nisso? Entra no fato de: o Espírito conduzir o que manuseia a Palavra ao entendimento de caráter profético que configura numa espécie de revelação, pois, bota “para fora” algo que a Bíblia tinha como “modelo”.

A doutrina proveniente de Deus traz o homem de volta a Deus e mantém-no sempre perto de Deus. Nenhuma doutrina centralizada na Palavra, inspirada e revelada por Deus pode levar o crente para longe de Deus. Mas o conteúdo da heresia é a apostasia (afastamento). Toda doutrina que não é de Deus e não se justifica pela Escritura tende a afastar o praticante de Deus, configurando aí a apostasia. Mas nenhuma heresia pode levar o homem a Deus. Se uma doutrina faz com que o crente se prostre diante de Deus e confesse sua fraqueza e limitação diante do altíssimo, logo ela não pode ser uma heresia, pois o conteúdo da heresia é o afastamento. O Diabo não leva ninguém a Cristo, mas afasta.



(Continua. Breve postarei aqui nesta postagem mesmo o restante do assunto. Ao concluir a segunda parte, editarei a presente postagem e colocarei tudo em uma postagem só. Aguardem.)


Gabriel Felipe M. Rocha


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Sugestão de Blog



BLOG OINOS

www.oinos222.blogspot.com.br

"O vinho novo do evangelho não é destinado a nos deixar 

confortáveis, mas a nos fazer novos." (Paul Earnhart)




Um pouco mais sobre as Escrituras

"Examinai as Escrituras [...]" (João 5:39)

Por Gabriel Felipe M. Rocha*


A paz de nosso Senhor a todos!

Pois bem, venho através deste mostrar um pouco mais sobre a Bíblia, a Revelação de Deus. No mês anterior eu publiquei aqui no blog Palavra a Sério dois estudos que desenvolvi sobre as Escrituras Sagradas (Bíblia: Inspirada, Revelada e Espiritualmente Iluminada 1 e 2), escritos esses que poderão ser vistos entre as postagens do mês de janeiro de 2014.

 

Mas, antes de lerem esta presente postagem, sugiro que visualizem e analisem  antes a postagem: “Lendo as Escrituras” cujo link deixo aqui: http://palavraserio.blogspot.com.br/2014/02/lendo-as-escrituras.html

 

Como esses três estudos são originalmente um, havia postado separadamente para não ficar algo tão grande. No entanto, resolvi postar trechos importantes presentes em ambas as postagens e na postagem de fevereiro, isso como meio de facilitar o entendimento do assunto, haja vista que o Blog Palavra a Sério é um blog sério, inteligente e voltado para verdadeiros estudos bíblicos, cujo conteúdo é realmente trabalhado, estudado e pesquisado, evitando cópias e colagens alheias, a não ser algumas postagens que julgamos importantes e que, ao serem postadas aqui, os devidos créditos são deixados e, na maioria das vezes, sob permissão do autor. Eu (Gabriel Felipe M. Rocha) por não ter compromisso com “teologias neopentecostais” e nem cursos “teológicos” gratuitos sem reconhecimento dos devidos órgãos governamentais, me faço sistemático o bastante para que o nosso conteúdo seja assimilado e tenha, sobretudo, a seriedade, serenidade e a devida competência como textos dignos de serem chamados “textos apologéticos”.

 

O trecho que deixo aqui hoje é uma desmistificação de uma frase muito usada em algumas igrejas e, na maioria das vezes, mal usada e interpretada, gerando heresias, interpretações alheias ao conteúdo da sã doutrina e pretextos para a prática da apostasia no uso e no ensinamento de doutrinas estranhas às Escrituras.

 O texto é: “porque a letra mata, mas o Espírito a vivifica(2Cor 3:6)

 

E, na oportunidade, escrevo um pouco mais sobre o teor ‘profético’ das Escrituras.

Vamos à análise:

Já sabemos que Jesus é o clímax da revelação de Deus:

 "Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer" (Jo 1.18).

“Porque não o recebi e aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo” (Gl 1:12)

Jesus é a revelação de Deus e, ao mesmo tempo, Deus foi revelado aos homens em Jesus. Bem, a finalidade da revelação de Jesus Cristo é tornar Deus conhecido dos homens e também acessível pelo Santo Nome de Jesus. Para isso, as Palavras do Deus espiritualmente superior à razão dos homens devem ser mostradas pelo Espírito Santo, aquele que “vos ensinará todas as coisas” (João 14: 26).
Veja em João 17: 21 a 24 que a função do mesmo Espírito Santo é dar ao mundo (através da Igreja) o conhecimento de Deus. Isso configura um caráter explicitamente espiritual e será pela revelação do Espírito Santo que tal conhecimento pode chegar aos homens distantes de Deus.
Mas o que precisamos entender, de fato, aqui é o seguinte: Isso também não significa dizer que o texto literal é inválido. Quem diz ou ensina isso está cometendo um grave erro baseado num versículo isolado da Bíblia em (IICor 3:6) que diz assim: “
[...] porque a letra mata, mas o Espírito vivifica”.
Ali Paulo não falava da invalidez das Escrituras, mas sim da validez da mesma sobre a intervenção inspiradora, reveladora e iluminadora do Espírito Santo. Paulo ali, no contexto, falava da Lei e isso não pode fazer alusão à Bíblia que hoje nós temos que é a revelação de Deus. Porém a expressão “letra”, do grego “gramma” que pode falar da Lei, mas pode também falar do livro todo (forma abrangente), uma epístola e Escrituras (considerando que ali não existia só a Lei, mas a Lei e os Profetas). Essa expressão grega vem do substantivo “grapho” = “escrever” e remete ao sentido literal da escrita. Então não podemos ignorar que Paulo advertia a igreja do mau uso da letra literal, fundamentalista e religiosa. Mas o que vale como informação central nesse texto é o seguinte: Não é a Lei e nem a Palavra de Deus escrita, em si mesmas, que matam. Trata-se, pelo contrário, das exigências da Lei, que sem a vida e o poder do Espírito, trazem condenação (veja em Jr 31:33; Rm3:31). Mediante a salvação em Cristo, o Espírito Santo concede vida e poder espiritual ao crente no manejo das Escrituras que também são vivificadas. 

 Cristo havia dito em João 5:39: “examinai as Escrituras (livros em si) [..] pois elas de mim testificam” (Jesus nelas). Jesus mostra com clareza que Ele não é a Bíblia, não podemos assim mistificá-la, mas a Bíblia fala dEle. Isso é bem claro e é questão de entendimento de termos e perspectivas.
Isso corrobora também com o fato de: a Bíblia ter um conteúdo ‘profético’. Mas antes, vou explicar o termo “profético”: a palavra “profético”, assim como “profecia”, é comumente usada nas igrejas, mas, muitas vezes, de forma errada. ‘Profecia’ e ‘profético’ remete ao voltar-se para algo, cujo caminho ou método é apontado. Não é só, portanto, “apontar para frente”, mas é, no caso bíblico, “voltar-se para Deus”. Leiam os profetas bíblicos (maiores e menores) e percebam qual é o conteúdo comum em suas mensagens. O conteúdo comum, já adiantando aqui, é “voltem para Deus”, cujo caminho é apontado: “obedeçam a sua palavra”. Isso define o termo “profético”. Sendo assim, a Bíblia é um livro literariamente e espiritualmente profético, pois é a revelação do projeto de redenção de Deus cuja centralidade está toda em Jesus Cristo, o Verbo de Deus, a verdadeira “Palavra Revelada”. Por que é profética? Porque revela a salvação em Cristo. O ato salvífico de Cristo se resume em: trazer o homem de volta para Deus, logo, o conteúdo da Bíblia é profético. Aliás, a salvação é profética, pois parte do pressuposto bíblico que Deus programou tal projeto na Eternidade e lá elegeu o seu povo para herdar a salvação e a glória em Cristo. Não é à toa que a figura do sangue percorre por toda a Bíblia, mostrando, conforme nos explica o autor de Hebreus, que viria o “Perfeito” (Cristo). Isso sustenta a frase de Cristo: “
examinai as Escrituras, pois elas de mim testificam”. Como “de mim testificam”? Pelas figuras, alegorias e tipos.
Onde entra a interpretação e a “revelação” nisso? Entra no fato de: o Espírito conduzir o que manuseia a Palavra ao entendimento de caráter profético que configura numa espécie de revelação, pois, bota “para fora” algo que a Bíblia tinha como “modelo”. Isso se aplica nas peças do Tabernáculo, na figura do Cordeiro, do Sangue, dos tipos humanos, etc. Há aí uma interligação entre RAZÃO e REVELAÇÃO. Nenhuma é alheia à outra. Estudar, pesquisar e se aprofundar nos textos bíblicos no espírito e pelo Espírito é muito diferente de fazer o mesmo sem a fé. Veja que muitos biblistas alcançam entendimentos profundos sobre o conteúdo histórico, cultural, arqueológico e religioso sobre as escrituras, mas pouquíssimos falam do seu caráter espiritual ou profético. Por quê? Porque não têm o pressuposto fundamental para “botar para fora” aquilo que se discerne espiritualmente, a saber, a fé. Mas vão até onde o espírito humano (a razão humana) pode levar. Mas quando você lê ou estuda a Bíblia partindo desse pressuposto espiritual (a fé), o Espírito de Deus, pela fé, dá o entendimento espiritual daquilo que se lê e assim, Deus fala, às vezes, de forma bem particular.
Não estamos falando aqui de inventar doutrinas em nome da “revelação”, pois tudo que aparece deve ser provado pela própria Bíblia.
Não podemos abstratamente pensar que se nós abrirmos a Bíblia sem conhecê-la, o Espírito Santo vai nos revelar tudo. Isso soa um místico demais. Mas o Espírito Santo auxilia no discernimento espiritual daquele que conhece as Escrituras, pois deve haver um pressuposto, um ponto de partida racional para a absorção da revelação divina. Lembrando também que a revelação divina, ou a iluminação (como querem) não se configura como “algo a mais”, ou “outro Evangelho”. Não podemos pegar um erro para justificar ou desqualificar tudo. Isso é de igual forma, abstração.
Mas, no manuseio da Bíblia pelo crente já convertido, há uma possibilidade de uma ação reveladora do Espírito Santo? Não podemos dizer que não, pois como diz a Palavra de Deus: “o Espírito assopra onde quer”, mas por uma questão de segurança, melhor não se lançar em nenhum experimentalismo que possa vir como algo que ultrapasse a sã doutrina de Jesus Cristo revelada na Bíblia. Mas, de mesmo modo, não podemos negar que o mesmo Espírito divino que, segundo João nos ensinaria todas as coisas. Como? Mostrando “algo novo”, revelando “novas doutrinas”? Não! Mas apenas consolidando o conteúdo doutrinário já registrado e aperfeiçoando a igreja por meio de ensinamentos e alcances ainda mais profundos segundo propósitos específicos do próprio Deus . Não podemos negar que a função do Espírito Santo na Igreja é o preparo, a consolidação da doutrina, o aperfeiçoamento do Corpo de Cristo, oposição ao pecado, etc.

“E a unção, que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira …”

Podemos ilustrar da seguinte forma: Deus é o engenheiro e já tem pronto todo o seu projeto. Ele dita (revela) seu projeto a homens aptos para recebê-lo. Logo, ele nos deixa pronto e devidamente registrado (revelado) tudo sobre seu plano de construção (salvação). Mas, nós, os operários de Deus, não temos a mesma ciência divina. Aliás, somos trabalhadores registrados pela bondade soberana do dono da construção, pois nossa aptidão para tal obra havia sido perdida (pecado). Mas, diante do projeto já nos revelado no arquivo técnico, como interpretar e aplicar na prática o desenho se não temos a ciência divina? Só executaremos e entenderemos cada detalhe do projeto pelo auxílio do engenheiro enviado para nos “ensinar todas as coisas”. Isso, logicamente, não significará que tudo virá de forma ‘sobrenatural’, não! Mas se dará primeiro pelo nosso esforço em estudar e ler o projeto, entender os princípios básicos e já suficientes registrados ali e começar por nós mesmos a execução dessa obra. Daí o entendimento virá conforme a nossa necessidade diante de algumas adversidades, oposições. Para cada patamar dessa grande construção, o engenheiro enviado para ensinar todas as coisas mostrará a aplicação específica para a execução daquele trabalho e ele mesmo se encarregará de enviar alguns instrumentos. Como sou da confissão pentecostal, cito alguns instrumentos: dons espirituais e tantos outros recursos provenientes da graça divina.

A Bíblia é um instrumento planejado por Deus para sua revelação chegar de forma acessível ao homem. Pois, o homem naturalmente depravado pelo pecado não poderia entender e nem buscar a Deus, mas a Bíblia é um meio universalmente posto para o homem conhecer um pouco, ou pelo menos de forma básica, aquilo que Deus tem para ele.
Mas é a ação do Santo Espírito de Deus que vai definir o convencimento ou não desse depravado homem.


Gabriel Felipe M. Rocha.
Graduado em História (licenciatura e bacharelado);
Pós- graduado em Sociologia (lato sensu);
Mestrando em Filosofia (stricto sensu) – Área de concentração: Antropologia e Ética;
Bacharel em Teologia (ênfase em História da Igreja).

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Para a nossa reflexão ("a culpa é nossa")


Tenho reparado o quanto o cristianismo está em descrédito. Principalmente no meio dito "evangélico" ou protestante onde há uma maior carga de cobrança pelo simples fato de pregarem mais enfaticamente a santidade. Bem, de fato o descrédito é justo quando olhamos para os vários problemas que permeiam o meio cristão. Mas a culpa é nossa e não do Evangelho. A essência do mesmo é tão real e eficaz que é capaz de transformar vidas, coisa que homem nenhum pode fazer. E o fato do Evangelho ser simples e ser, ao mesmo tempo, o poder de Deus para a salvação, aumentam mais a nossa culpa. Tantas igrejas, tantas ideias, tantas heresias, tantas pessoas vazias, tantos pseudocristãos que em nada se mostram diferentes ou transformados pela Palavra do genuíno Evangelho (que é poder de Deus). Existem mais crentes denominacionais do que homens e mulheres compromissados com as questões do Reino de Deus, aliás, homens e mulheres que, como os cristãos primitivos, morreriam pela causa cristã.

Mas o conteúdo do Evangelho é salvação, é graça divina, é resgate e é amor. Está faltando um real engajamento. Está faltando qualidade. A mensagem do Evangelho é para transformação e nós somos os culpados do descrédito do mesmo, pois nossas ações não são boas! Não tem como pregar amor se não amamos e nem fé se a nossa fé não vem acompanhada por sinais verdadeiros e nem frutos visíveis de arrependimento, amor e piedade. Nós somos os culpados...

Mas quando há o verdadeiro engajamento, o mundo lê as nossas vidas, pois somos, de fato, cartas abertas para o mundo onde a mensagem do Cristo vivo está escrita com sangue. Assim fazemos diferença! Como o nosso Senhor ensinou: precisamos ser sal e luz do mundo. Precisamos temperar a terra e iluminar onde há escuridão. Não podemos ser iguais aos que não conhecem a Cristo. Portanto, a tarefa é nossa e, com ela, a culpa, também é nossa.  Coloco aqui o termo “culpa” não no sentido do pecado para morte, embora Deus irá requerer o fruto de nosso trabalho e a multiplicação dos talentos que um dia nos foi confiado. Deus nos chamou para sermos mordomos e precisamos dar conta dessa mordomia. A culpa que emprego aqui nessa reflexão não é pessoal, mas muito abrangente. O fato de o Evangelho estar em descrédito é culpa do ser humano comissionado a levá-lo e anunciá-lo e não do Evangelho em si que é puro e santo. É nessa perspectiva que deixo essa reflexão.

Contudo, Deus tem chamado o seu povo para andar com Ele e ser participante da glória dEle. Ele é rico em misericórdia e a nossa culpa foi expiada pelo precioso sangue de Jesus. Basta, agora, nos achegarmos diante dEle com fé e confiança. Precisamos (todos nós) a cada instante nos renovarmos nesse amor, pois Jesus pagou a nossa culpa, nossa dívida, mas o pecado ainda está em nós. Não sejamos mais omissos, mas sim sensíveis e obedientes à voz do Espírito.   Sejamos luz e sal. Sejamos todos “atalaias da Verdade” e jamais venhamos nos assemelhar ao mundo.

"Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.
Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós.
Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça"
(1 João 1:7-9)
 Alguns ainda poderão dizer: Ah! Isso tudo que está acontecendo é profético...  ...O amor de muitos se esfriaria, etc. Sendo profético ou não, é nossa responsabilidade zelar pelo Evangelho de Jesus Cristo em nossas vidas e em nossa congregação.
"Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade. E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim; Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim" (João 17:18-23)

Maranata!



Gabriel Felipe M. Rocha: professor e acadêmico;
Graduado em História (licenciatura e bacharelado);
Pós graduado em Sociologia (lato sensu);
Mestrando  em Filosofia (área de estudo: Ética e Antropologia);
Bacharel em Teologia (ênfase em História da Igreja);
Estudou Francês Instrumental na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte.