domingo, 28 de junho de 2015

Trabalho de Hermenêutica (Gabriel F. M. Rocha)



Exercício 1:

·         Como se harmonizam os textos de Paulo e Tiago, dizendo um: “[...] concluímos, pois que o homem é justificado pela fé, independente das obras da lei”. E outro: “[...] verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente”.


Desenvolvimento do exercício:


1)    Contexto geral da frase escrita por Paulo em Romanos 3. 28:

             Paulo, em todo o contexto do capítulo 3 (desdobrando o tema também nos capítulos posteriores), fala a respeito da justificação pela fé. A abordagem desse assunto parte da tentativa de refutar a antiga noção israelita de meritocracia e exclusivismo através da guarda da Lei[1]. Paulo, portanto, estava – em todo o contexto – explicando que, a justificação (perdão dos pecados e aceitação diante de Deus) viria não pela posse ou pelas obras da lei[2] (a guarda da lei), pois, como afirma Paulo, não há acepção de pessoas. Por que não há? Por que não há nenhuma vantagem em guardar a Lei, pois, “[...] não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram e se fizeram inúteis...”[3]. Portanto, a lei apenas mostra ao homem (e especialmente mostrava ao judeu) sua incapacidade de se auto-justificar por ela, pois, simplesmente não consegue tal feito. Contudo, Paulo mostra que “[...] sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que crêem [...] sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus [...] mediante a fé, para manifestar a sua justiça [...]”[4].


2)    O objetivo de Paulo ao escrever a seguinte frase: “[...] concluímos, pois que o homem é justificado pela fé, independente das obras da lei”:
      Paulo, portanto, queria dizer que:

A)   Embora os judeus tivessem em mãos e Lei, não havia alguma acepção de pessoas (2. 11- 15);
B)   Todos, sem exceção, pecaram e foram afastados da glória de Deus (3. 12);
C)    E que, sem lei, manifestou a justiça (ou justificação) pela graça, mediante a fé em Jesus Cristo. Portanto, o homem é justificado sem alguma “obra extra” ou “ajuda”, sendo a justificação suficiente em si através da fé. Desse modo, a idéia de mérito (pelas obras) é superada.

            Assim, ao falar que a justificação se dá somente pela fé, Paulo não está dizendo que as nossas obras são logo invalidadas. Tanto é verdade isso que, em Rm 314, ele justifica que alguns gentios que andaram “em conformidade com a lei”, mostraram a obediência à vontade divina tendo a lei “gravada no coração”. Portanto, considerando que a parte extinta da lei se refere apenas à cerimonial (ou religiosa), pois essa foi cumprida em Cristo, ainda está mantida a face objetiva da lei os benefícios da ação (intersubjetiva) da lei, a saber, o conteúdo moral e alguns aspectos da lei civil. Portanto, “as obras da lei” não estão sendo refutadas por Paulo em sua afirmação em Rm 3. 28, mas ele apenas quer mostrar que o ato da justificação se dá suficientemente em Cristo mediante nossa fé em Jesus Cristo.

3)    A frase de Tiago (Tg 2. 24):


            A frase de Tiago, por sua vez, não está em desacordo (ou desarmonia) com a frase paulina conforme a análise acima. Tiago diz: “[...] Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente[5]. Há uma harmonia implícita. Vejamos:

1)    É necessário fazer primeiro uma análise textual:

             Várias vezes em sua carta, Tiago usa o verbo “justificar”. Pois bem, o verbo aparece em Tg 2. 21e 2. 24,25 do mesmo modo que aparece em Rm 3. 28. O termo grego para “justificar” ou “justificação” é “dikaioo” que remete à idéia de: justiça, retidão, tornar alguém justo, considerar alguém justo, ser justo, absolver, inocentar, e livrar de uma possível condenação. Note que no contexto paulino (Rm 3. 28), a “justificação” (que é somente pela fé) aparece no sentido de “inocentar”, “absolver”, “livrar de uma condenação” e, sobretudo, “tornar alguém justo”. Mas, Tiago em sua carta, usa o termo em total harmonia com o próprio contexto da frase. O que o contexto de Tiago cap. 2 informa? Resumidamente, Tiago está falando a respeito da necessidade das obras como evidência intrínseca da fé. Como se prova isso? Veja que desde o início de sua carata, Tiago trata de questões que envolvem postura moral, espiritual e religiosa (1. 4- 11; 1. 14-27/ 2. 1-13). Após tais advertências, ele rapidamente liga sua fala à questão da necessidade de se evidenciar as “boas obras” como evidência e “prova” da própria fé. Veja em Tg 2. 14-23. Portanto, Tiago está querendo mostrar que, a fé é meio para a justificação com Deus (pois aceita a dádiva da fé e a suficiência da fé em 1. 3; 1. 6; 2. 1; 2. 5), mas, discorre sua fala ao mostrar que a nossa fé deve pressupor as boas obras. “Boas obras” aqui não num sentido sinergista (participação humana na própria justificação e salvação), mas no sentido de “obras como extensão intersubjetiva (ou visível) da fé”. A fé subjetiva (fé para mim mesmo) é insustentável, pois, nas afirmações de Tiago, a fé é necessariamente desdobrada em boas obras. Que boas obras? Boas atitudes que evidenciam a genuína fé e a genuína religião (Tg 1. 22- 27).
            Portanto, não existe contradição entre Paulo e Tiago. Pelo contrário: é fácil enxergar a harmonia entre ambos.  O termo “justificado” em G 2. 24 é o mesmo usado por Paulo em Rm 3. 28, mas não tem uma conotação semelhante. É totalmente aceitável que Tiago tenha usado “dikaioo” (justificado) para definir “justo” como um tipo de reconhecimento. Justiça é uma virtude e virtude só se torna virtude quando é reconhecida e aplicada em relação ao outro. Como se reconhece um justo? Pelos atos de justiça, pelos atos virtuosos. Isso corrobora em tudo com o contexto explicativo de Tiago. O termo “justificado” no original também dá a idéia de “ser justo”. Ou seja, “o homem é justo (ou se mostra justo) pelas obras...”. “E não somente a fé”. O “somente” aqui não supõe a insuficiência da fé (o que poderia, de fato, entrar em contradição com Paulo), mas transmite a idéia de que: ninguém pode se dizer justificado por simplesmente professar a fé (falar que tem fé)[6], pois a verdadeira fé se mostra (se prova) pelas obras e pelos frutos. A fé verdadeira necessariamente produz seus frutos. Frutos que se mostram nas obras do genuíno cristão. Quem é o genuíno cristão? Aquele que foi justificado por sua fé em Jesus Cristo.


Termino o primeiro exercício citando a CFW (Confissão de Fé de Westminster) XI, I e II:

I. Os que Deus chama eficazmente, também livremente justifica. Esta justificação não consiste em Deus infundir neles a justiça, mas em perdoar os seus pecados e em considerar e aceitar as suas pessoas como justas. Deus não os justifica em razão de qualquer coisa neles operada ou por eles feita, mas somente em consideração da obra de Cristo; não lhes imputando como justiça a própria fé, o ato de crer ou qualquer outro ato de obediência evangélica, mas imputando-lhes a obediência e a satisfação de Cristo, quando eles o recebem e se firmam nele pela fé, que não têm de si mesmos, mas que é dom de Deus.

Rom. 8:30 e 3:24, 27-28; II Cor. 5:19, 21; Tito 3:5-7; Ef. 1:7; Jer. 23:6; João 1:12 e 6:44-45; At. 10:43-44; Fil. 1:20; Ef. 2:8.

II. A fé, assim recebendo e assim se firmando em Cristo e na justiça dele, é o único instrumento de justificação; ela, contudo não está sozinha na pessoa justificada, mas sempre anda acompanhada de todas as outras graças salvadoras; não é uma fé morta, mas obra por amor.

João 3:16, 18, 36; Rom. 3:28, e 5: I; Tiago 2:17, 22, 26; Gal. 5:6.


Exercício 2:

·         Como se explica a afirmação de João de que o cristão não pode pecar (1Jo 3. 9)?

            João inicia o capítulo dizendo que nós fomos feitos “filhos de Deus”[7]. Por isso “o mundo não nos conhece, porquanto não conheceu a ele”. Essas duas afirmações é quem vão definir a ideia da frase de 1Jo 3. 9.
            Se nós somos filhos de Deus e Deus é Santo, como filhos nós não podemos continuar em pecado. Há uma sutil diferença em “nunca pecar” e “não estar (ou andar) em pecado”. João em momento nenhum se contradiz ou faz alguma confusão quando afirma em 1. 8 que somos seres de pecados e, “[...] se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos...”. Mesmo que logo ele afirme que “todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado” (3. 9). Por quê?

1)    Porque na carta admite-se que todos são pecadores quando a mesma afirma que, pelo sangue de Jesus, somos purificados de todo o pecado. “[...] o sangue [...] purifica” está aplicado no original não no sentido de “uma vez nos purificou para jamais pecar novamente” (embora a proposta do Evangelho seja mesmo essa). Mas, João  transmite a idéia de uma continuidade, pois o pecado é ainda parte da própria estrutura corruptível da humanidade. Além disso, em 2. 1é advertido a não pecar, mas, “se todavia alguém pecar, temos um Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo”[8] e seu sangue nos purifica te todo o pecado quando confessamos[9]. Portanto, em lugar nenhum João está afirmando que estamos livre de todo o pecado, sendo altamente fatal cometer uma falha qualquer.
2)    João está dizendo que: sendo nós filhos de um Deus santo, não podemos andar, praticar, cometer deliberadamente o pecado, pois somos nascidos de Deus, portanto: todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática do pecado [...] este não pode viver pecando, porque é nascido de Deus”. Não há a idéia falsa de que jamais podemos pecar, pois contrariaria a própria condição humana e, a perfeição pessoal, alcançaremos ainda em glória. Mas, a idéia é: devemos buscar a santidade a fim de não cometer nenhum pecado. Como explica João: não podemos permanecer pecando, pois não seríamos filhos de Deus, mas sim do diabo[10].


Perguntas:

1)    Pergunta 1:

·         A parábola do trigo e do joio (Mateus 13. 25-30) parece ensinar que o erro dentro da igreja não deve ser julgado pelo receio de arrancar “também com ele o trigo”. como você conciliaria este ponto como evidente ensino de Mateus 7. 15-20, Tito 3. 10 e outros versículos que parecem ensinar que a igreja deve julgar o mal e o erro em seu meio?

Resposta:

           Para iniciar a resposta, deve-se postular o seguinte: o campo é o mundo inteiro, não somente Israel ou a igreja. Não poderia haver um julgamento imediato por parte de Deus, por consideração aos seus eleitos pelo mundo. Alé disso, há um tempo determinado para isso. Antes, deve haver os frutos entre os fieis (ao mesmo tempo em que o mundo também dá seus frutos ruins, pois foram lançados pelo diabo). Por último, o “lançar ao fogo” pertence a Deus e não a nós. Diante dessa prévia análise, não sei se a parábola fala propriamente de julgar erros dentro das igrejas, embora se encaixe bem com essa ideia. O certo é que os justos têm vivido entre os injustos desde os primórdios da humanidade.
           Mas, considerando a idéia central da parábola (a “moral” da história), sabemos que os pecadores e injustos não poderão ser “recolhidos” e “lançados no fogo” agora. Há um tempo determinado para a “colheita”.
            Porém, considerando que o texto trate também a respeito de pecados e pecadores dentro da igreja (o que de fato existe), podemos conciliar com outras afirmativas, como a de Mt 7. 15-20.

A)   Primeiro:

           Há uma diferença de advertência em ambos os textos. Mt 13. 25-30 trata da perspectiva de Deus em relação ao seu trato final com aqueles que são pecadores e que se “parecem” ou se “misturam” com os crentes (perceba que joio e trigo têm certa semelhança). A parábola está falando de quê? Do reino. Do reino de quem? De Deus. Portanto, a perspectiva de Deus quanto à retirada definitiva do pecado é que é tratada na parábola. Lembremos que: mesmo que todos os crentes fieis julguem segundo a reta justiça (Jo 7. 24) e denunciem todos os erros, pecados e enganadores (Mt 7. 15-20), até o dia da Volta de Cristo esses ainda estarão entre os santos. Veja as advertências de Cristo às sete igrejas da Ásia (Ap 2. 1-28 a 3. 1-22). Erros e acertos sempre existirão dentro das igrejas, mas caberá sempre à própria igreja “consertar” tais erros, julgando e refutando todas as obras erradas entre eles.
           Portanto, o ato de julgamento da igreja (segundo a reta justiça e em obediência a Mt 7. 15-20) deverá existir constantemente como uma das tarefas específicas da Igreja. Contudo, a “arrancada definitiva’ (idéia da parábola do joio e do trigo) só acontecerá no juízo final com a ação poderosa do próprio Juiz (Deus). Concluindo: são perspectivas diferentes. A primeira remete à ação do próprio Deus no estabelecimento definitivo de seu reino, arrancando todo fruto ruim (e em todo o contexto Jesus fala sobre como é e como será o reino de Deus) e a segunda fala da ação da própria igreja em cautela para não ser contaminada com os enganadores e falsos crentes, buscando conhecer, desde já, os frutos de cada um.

B)   Segundo:

           Em Tito 3. 10 há a seguinte advertência de Paulo: “Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez [...]”. Essa frase corrobora em tudo com outra frase paulina: “[..] Evita, de igual modo, os falatórios inúteis e profanos...” (2 Tm 2. 16). Note que o contexto dessa frase é de admoestação em relação aos falsos crentes e doutrinas, ou seja, é necessário evitar tudo e todos dentro das igrejas quando se tratam de erros, falsas doutrinas, falsos crentes, pecados, etc.

2)    Pergunta 2:

·         Um cristão perdeu o emprego durante a recessão de 1974-75. Ele e a esposa interpretaram Romanos 8. 28 (“Todas as coisas cooperam para o bem”), no sentido de que ele perdeu o emprego a fim de que Deus pudesse dar-lhe um mais bem remunerado. Conseqüentemente ele rejeitou diversas oportunidades de emprego de remuneração inferior ou igual a que ele tinha, e permaneceu na condição de desempregado por mais de dois anos antes de voltar ao trabalho. Concorda você com a interpretação que ele deu a esse versículo? Por que sim ou por que não?

Resposta:

            Não concordo! Por que não concordo? Porque o contexto da frase de Rm 8. 28 não se trata – exatamente – de uma cooperação no sentido aplicado pelo rapaz. Explico: o contexto de Romanos 8, desde o versículo 1, trata a respeito da segurança do crente em relação à sua salvação em Cristo e da vida espiritual em detrimento da vida carnal (veja em: Rm 8. 1-11/ Rm 8. 26 -39). Paulo transmite que fomos reconciliados para vivermos, agora, em espírito, pois somos de Cristo. E, estando em Cristo, venceremos com Ele e perseveraremos até o fim. Portanto, mesmo com as adversidades carnais, temporais, circunstanciais, etc. a morte e a condenação poderá nos tragar e, mesmo que tente, o Espírito Santo intercede por nós em nossa fraqueza e, nesse contexto e nessa idéia, é que Paulo escreve: “[...] todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus...”. Quem são os que amam? Os que “são chamados segundo o seu propósito” (v. 28). O propósito de Deus pode ser contrariado? Não! (veja em Rm 8. 30-39) Seremos conservados em Cristo. Portanto, todas as coisas, mediante a intercessão do Espírito Santo, cooperarão para o nosso bem a fim de que não venhamos ser tragados pela derrota, pois, se não fosse a intercessão do Espírito Santo de Deus, não perseveraríamos e cairíamos derrotados pela carne e pelo pecado.Portanto, o cristão desempregado fez uma leitura radical de Rm 8. 28.

            O versículo poderia, de algum modo, sugerir uma cooperação de Deus para o bem (em vários sentidos) de cada cristão? Sim! Mas isso não é uma regra, pois, embora nós crentes tenhamos a certeza do cuidado de Deus e da vitória em Cristo, podemos também padecer faltas, carências e decréscimos nesta vida. E, mesmo assim, tais “infelicidades” não implicariam numa não-cooperação divina, pois, como disse o próprio Paulo:


“[...] já aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece”.[11]



 Gabriel Felipe M. Rocha










 Gabriel F. M. Rocha é presbiteriano, formado em História (licenciatura e bacharelado), pós-graduado em Sociologia; mestrando em Filosofia (Ética e Antropologia), professor e pesquisador/ professor de História da Igreja pela Oitava Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte.




[1] Rm 2. 12-29; 3. 1-20.
[2] Rm 2. 11; 2. 12-16.
[3] Rm 3. 11,12.
[4] Rm 3. 21-25.
[5] Tg 2. 24.
[6] Tg 2. 17-23.
[7] 1Jo 3.1.
[8] 1Jo 2. 1.
[9] 1Jo 1. 7.
[10] 1Jo 3.8.
[11] Fp 4. 11-13.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

A Obra do Espírito Santo na Regeneração

A Obra do Espírito Santo na Regeneração



Por John Owen


A obra do Espírito Santo na regeneração de almas precisa ser estudada e claramente compreendida pelos pregadores do evangelho, e por todos aqueles a quem a Palavra de Deus é pregada. É pelos verdadeiros pregadores do evangelho que o Espírito Santo regenera as pessoas (1Cor 4:15; Fm 10; At 26: 17,18). Por isso, todos aqueles que pregam o evangelho precisam conhecer totalmente a regeneração para que possam com Deus e o Seu Espírito trazer almas ao “novo nascimento”. É também dever de todos os que ouvem a Palavra de Deus estudar e entender a regeneração (2Cor 13:5).

O grande trabalho do Espírito Santo é a obra de regeneração (Jo 3:3-6). Certa noite Nicodemus, um mestre de Israel, veio até Jesus, que lhe disse: “se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. (...) O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito”. O nosso Senhor tendo o conhecimento de que a fé e a obediência a Deus, e a nossa aceitação da parte de Deus, dependem de um novo nascimento, fala a Nicodemus do quão necessário é nascer de novo. Nicodemus fica surpreso com isso, e assim Jesus segue adiante a ensinar-lhe que obra de regeneração é esta. Ele diz: “quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (v.5).

A regeneração, portanto, ocorre por meio “da água e do Espírito”. O Espírito Santo faz a obra de regeneração na alma do homem, da qual a água é o sinal exterior. Este símbolo externo é um solene compromisso e selo do pacto que até então lhes vinha sendo anunciado por João Batista. A água pode também significar o próprio Espírito Santo.

João nos fala que todos aqueles que receberam a Cristo só o fizeram por terem nascido de Deus (Jo 1:12,13). Nem a hereditariedade, nem a vontade do homem podem produzir um novo nascimento. A obra como um todo é atribuída tão-somente a Deus (veja também Jo 3:6; Ef 2:1,5; Jo 6:63; Rm 8:9,10; Tt 3:4-6).

É sempre importante lembrar que toda a Trindade está envolvida nesta obra de regeneração. Ela se origina na bondade e no amor de Deus como Pai (Jo 3:16; Ef 1:3-6), da Sua vontade, propósito e conselho. É uma obra do Seu amor e graça. Jesus Cristo nosso Salvador a adquiriu para pecadores (Ef 1:6). Mas o verdadeiro “lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” nas nossas almas é obra do Espírito Santo (Tt 3:4-6).

Todavia o meu presente objetivo é confirmar os princípios fundamentais da verdade concernente a essa obra do Espírito Santo que vêm sendo negados e combatidos.

A regeneração no Velho Testamento

No Velho Testamento a obra de regeneração ocorria desde a fundação do mundo, e foi registrada nas Escrituras. Contudo o seu conhecimento era muito vago comparado ao conhecimento que temos dela no evangelho.

Nicodemus, um importante mestre de Israel, declarou a sua ignorância quanto a isso. “Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez?”. Cristo maravilhou-se de que um mestre de Israel não conhecesse esta doutrina da regeneração. Estava nitidamente declarado nas promessas especificas do Velho Testamento, como também em outras passagens (conforme veremos), que Deus haveria de circuncidar os corações do Seu povo, tirar-lhes o coração de pedra e dar-lhes um coração de carne. Em sua ignorância os mestres de Israel imaginavam que a regeneração significava apenas uma reforma de vida. De modo semelhante muitos hoje consideram a regeneração como nada mais que o esforço para se levar uma vida moral. Mas se a regeneração significar nada mais do que se tornar um novo homem moral — algo a que todos, tanto mais ou menos, recomendam — dessa forma o nosso Senhor Jesus Cristo, bem mais do que esclarecer a Nicodemus sobre esta questão, a obscureceu mais ainda.

O Novo Testamento ensina claramente que o Espírito Santo faz uma obra secreta e misteriosa nas almas dos homens. Agora, se esta obra secreta e misteriosa for na verdade apenas uma reforma moral que capacita os homens a viverem melhor, se for apenas um convencimento externo para abandonar o mal e se fazer o bem, então, a doutrina da regeneração ensinada por Cristo e todo o Novo Testamento, é definitivamente incompreensível e sem sentido.

A regeneração e a doutrina da regeneração existiram no Velho Testamento. Os eleitos de Deus, de qualquer geração, nasceram de novo pelo Espírito Santo. Mas antes da vinda de Cristo, todas as coisas dessa natureza, estavam “desde o princípio do mundo, ocultas em Deus” (Ef 3:9 — tradução literal NKJV).

Mas agora chegou o grande médico, aquele que haveria de curar a terrível ferida das nossas naturezas pela qual estávamos mortos em nossos “delitos e pecados”. Ele abre a ferida, mostra-nos o quão é terrível e revela a situação de morte que ela trouxe sobre nós. Ele assim o faz para que sejamos verdadeiramente agradecidos quando nos curar. Assim pois, nenhuma doutrina é mais completa e claramente ensinada no evangelho do que esta doutrina da regeneração.

Quão corrompidos, portanto, são os que a negam, desprezam e rejeitam.

A constante obra do Espírito

Os eleitos de Deus não eram regenerados de uma maneira no Velho Testamento e de outra completamente diferente, pelo Espírito Santo, no Novo Testamento. Todos eram regenerados de um mesmo modo pelo mesmo Espírito Santo. Aqueles que foram milagrosamente convertidos, como Paulo, ou que em suas conversões lhes foram concedidos dons miraculosos, como muitos dos cristãos primitivos, não foram regenerados de um modo diferente de nós mesmos, que também temos recebido esta graça e privilégio.

Os dons miraculosos do Espírito Santo nada tinham a ver com a Sua obra de regeneração. Não eram a comprovação de que alguém havia sido regenerado. Muitos dos que possuíram dons miraculosos jamais foram regenerados; outros que foram regenerados jamais possuíram dons miraculosos.

É também o cúmulo da ignorância supor que o Espírito Santo no passado regenerava pecadores miraculosamente, mas que agora Ele não o faz de modo milagroso, mas por persuadir-nos que não é razoável que não nos arrependamos dos nossos pecados.

Jamais cairemos neste erro se considerarmos o seguinte:

a) A condição de todos os não-regenerados é exatamente a mesma. Uns não são mais não-regenerados que outros. Todos os homens são inimigos de Deus. Todos estão sob a Sua maldição (Sl 51:5; Jo 3:5, 36; Rm 3:19; 5:15-18; Ef 2:3; Tt 3:3-4).

b) Há variados níveis de malignidade nos não-regenerados, assim como há diversos níveis de santidade entre os regenerados. Todavia o estado de todos os não-regenerados é o mesmo. Todos carecem de que se faça neles a mesma obra do Espírito Santo.

c) O estado a que os homens são trazidos pela regeneração é o mesmo. Nenhum é mais regenerado do que outro, contudo uns podem ser mais santificados que outros. Aqueles gerados por pais naturais nascem de um mesmo modo, embora alguns logo superem os outros em perfeições e habilidades. O mesmo também ocorre com todos os que são nascidos de Deus.

d) A graça e o poder pelos quais esta obra de regeneração é operada em nós são os mesmos. A verdade é que aqueles que desprezam o novo nascimento, fazem-no porque desprezam a nova vida. Aquele que odeia a ideia de viver para Deus, odeia a ideia de ser nascido de Deus. No final, entretanto, todos os homens serão julgados por esta pergunta: “Você nasceu de Deus?”.

A compreensão errada sobre a regeneração

Em primeiro lugar regeneração não é meramente ser batizado e dizer: “eu me arrependi”. A água do batismo é apenas um sinal externo (1Pe 3:21). A água mesmo só pode molhar e lavar alguém da “imundícia da carne”. Mas como um sinal exterior ela significa “uma boa consciência para com Deus, por meio da ressurreição de Jesus Cristo” (1Pe 3:21. Veja Hb 9:14; Rm 6:3-7). O apóstolo Paulo faz claramente a distinção entre a ordenança exterior e o ato de regeneração em si mesmo (Gl 6:15). Se batismo acompanhado de confissão de arrependimento for regeneração, então todos aqueles que foram batizados e se confessaram arrependidos têm de ser regenerados. Mas é claro que isso não é assim (veja At 8: 13, 21, 23).

Em segundo lugar a regeneração não é uma reforma moral da vida exterior e do comportamento. Por exemplo, suponhamos uma tal reforma exterior pela qual alguém volta-se de fazer o mal para fazer o bem. Deixa de roubar e passa a trabalhar. Não obstante, haja o que houver de justiça real nessa mudança moral exterior de comportamento, ela não procede de um novo coração e de uma nova natureza que ama a justiça. É tão-somente pela regeneração que um corrupto e pecaminoso inimigo da justiça pode ser trazido a amá-la e a deleitar-se em praticá-la. Há os que escarnecem da regeneração como sendo inimiga da moralidade, justiça e reforma, mas um dia hão de descobrir o quanto estão errados.

A ideia de que a regeneração nada mais é do que uma reforma moral da vida, procede da negação do pecado original e do fato de sermos maus por natureza. Se não fôssemos maus por natureza, se fôssemos bons no fundo do nosso coração, então não haveria necessidade de nascermos de novo.

A regeneração não produz experiências subjetivas

A regeneração nada tem a ver com enlevos extraordinários, êxtases, ouvir vozes celestiais ou com qualquer outra coisa do tipo. Quando o Espírito Santo faz a Sua obra de regeneração nos corações dos homens, Ele não vem sobre eles com grandes e poderosos sentimentos e emoções aos quais não podem resistir.

Ele não se apodera dos homens como os maus espíritos se apossam das suas vitimas. Toda a Sua obra pode ser racionalmente compreendida e explicada por todo aquele que crê na Escritura e recebeu o Espírito da verdade que o mundo não pode receber. Jesus disse a Nicodemus: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai”, assim é com a obra de regeneração do Espírito Santo.

A natureza da regeneração

Regeneração é colocar na alma uma nova lei de vida que é verdadeira e espiritual, que é luz, santidade e justiça, que leva à destruição de tudo o que odeia a Deus e luta contra Ele. A regeneração produz uma milagrosa mudança interior do coração. “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura”. A regeneração não se dá pelos sinais exteriores de uma mudança moral do coração e é muito distinta deles (Gl 5:6; 6:15).

A regeneração é um ato onipotente de criação. Um novo princípio ou lei é criado em nós pelo Espírito Santo (Sl 51:10; Ef 2:10). Esta nova criação não é um novo hábito formado em nós, mas uma nova capacidade e faculdade. É chamada, portanto, de “natureza divina” (2Pe 1:4). Esta nova criação é o revestir de uma nova capacidade e faculdade criada em nós por Deus e que traz a Sua imagem (Ef 4:22-24).

A regeneração renova as nossas mentes. Ser renovado no espírito de nossas mentes significa que as nossas mentes possuem agora uma nova e salvadora luz sobrenatural que as capacita a pensarem e a agirem espiritualmente (Ef 4:23; Rm 12:2). O crente é renovado em “conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Cl 3:10).

O novo homem

Esta capacidade e faculdade nova produzida em nós pela regeneração é chamada de “novo homem”, porque envolve uma completa e total mudança da alma, de onde procede toda ação espiritual e moral (Ef 4:24). Este “novo homem” é contraposto ao “velho homem” (Ef 4:22,24). Este “velho homem” é a nossa natureza humana corrompida que tem a capacidade e faculdade de produzir pensamentos e atos malignos. O “novo homem” está capacitado e habilitado a produzir atos religiosos, espirituais e morais (Rm 6:6). Denomina-se de “novo homem” porque é uma “nova criação de Deus” (Ef 1:19; 4:24; Cl 2:12, 13; 2Ts 1:11).

Este “novo homem” é criado de imediato, num átimo. É por isso que a regeneração não pode ser uma mera reforma de vida, que é o trabalho de toda uma vida (Ef.2:10). É a obra de Deus em nós que antecede todas as nossa obras para com Deus. Somos feitura de Deus, criados para produzir boas obras (Ef 2:10).

Assim pois não podemos produzir boas obras aceitáveis a Deus sem que primeiro Ele produza esta nova criação em nós. Está dito que este “novo homem” é “criado segundo Deus [i.e., à Sua imagem]em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef 4:24). A imagem de Deus no primeiro homem não foi uma reforma de vida. Nem foi um padrão de bom proceder. Adão foi criado à imagem de Deus antes que fizesse qualquer boa obra. Esta imagem de Deus era a capacidade e faculdade dada a Adão para viver uma vida tal que manifestasse verdadeiramente o caráter santo e justo de Deus. Tal capacidade e faculdade foi dada a Adão antes mesmo dele começar a viver para Deus. É verdadeiramente indispensável que o mesmo ocorra também conosco. Primeiro, a imagem de Deus, a qual é o “novo homem”, é novamente criada em nós. Então podemos começar mais uma vez a apresentar em nossas vidas o caráter santo e justo de Deus (Lc 6:43; Mt 7:18).

A aliança de Deus

Deus já nos tem dito como nos trata em Sua aliança (Ez 36:25-27; Jr 31:33; 32:39,40). Ele primeiro lava e limpa a nossa natureza; arranca o nosso coração de pedra e dá-nos um coração de carne; escreve as Suas leis em nossos corações e coloca o Seu Espírito em nós para nos capacitar a guardar essas leis. É isso o que significa regeneração. Que também é descrita como o santificar, o tornar santo todo nosso espírito, alma e corpo (1Ts 5:23).

Comprovado pela Escritura

O Espírito Santo não opera de qualquer outro modo senão por aquilo que nos mostra a Escritura. Tudo que alega ser obra de regeneração Sua, precisa ser comprovado pela Escritura. O Espírito Santo, por ser onisciente, conhece as nossas naturezas perfeitamente, e por isso sabe com exatidão como operar nelas sem as ferir ou danificar, sem forçá-las de modo algum a concordar com a Sua vontade.

A pessoa ao ser regenerada, jamais, em momento algum, sente que está sendo malignamente forçada contra a sua vontade. A despeito disso, muitos que são verdadeiramente regenerados têm sido tratados pelo mundo como se fossem loucos, ou algum tipo de fanático religioso (2Rs 9:11; Mc 3:21; At 26:24, 25).

A obra do Espírito Santo na regeneração de almas precisa ser estudada e claramente compreendida pelos pregadores do evangelho, e por todos aqueles a quem a Palavra de Deus é pregada. É pelos verdadeiros pregadores do evangelho que o Espírito Santo regenera as pessoas (1Cor 4:15; Fm 10; At 26: 17,18). Por isso, todos aqueles que pregam o evangelho precisam conhecer totalmente a regeneração para que possam com Deus e o Seu Espírito trazer almas ao “novo nascimento”. É também dever de todos os que ouvem a Palavra de Deus estudar e entender a regeneração (2Cor 13:5).

A regeneração foi-nos revelada por Deus (Dt 29:29). Assim pois não estudar nem tentar compreender esta grande obra é revelar a nossa própria estultícia e loucura. Enquanto não tivermos nascido de Deus nada poderemos fazer que Lhe agrade, nem obtemos dEle quaisquer consolações, e nada somos capazes de entender a Seu respeito ou sobre o que Ele está realizando no mundo.

Há o grande perigo de que os homens possam estar enganados quanto à regeneração e que estejam, portanto, eternamente perdidos. Crendo erroneamente que podem obter o céu sem que lhes seja necessário nascer de novo, ou que havendo nascido de novo podem continuar a levar uma vida pecaminosa. Tais opiniões contradizem claramente o ensinamento do nosso Senhor e dos apóstolos (Jo 3:5; 1Jo 3:9).


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Fonte: Jornal Os Puritanos – Ano X – No 04 – Out./Nov./Dez./2002 
Extraído do Livro “O Espírito Santo”, do teólogo puritano John Owen (O Príncipe dos Puritanos), publicado pela Banner Of Truth, cap 8, pg 43-51. Adaptado das suas obras para uma linguagem contemporânea por R.J.K. Law.
Via: Monergismo

A obra do Espírito Santo na encarnação de Jesus Cristo

0A obra do Espírito Santo na encarnação de Jesus Cristo

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Por Leonardo Dâmaso


Texto base: Hebreus 10.5

1. A preparação do corpo de Jesus

A criação dos céus e da terra foi um ato da divindade. Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo estiveram ativos em todo o processo. Cada um deles teve o seu papel especifico na realização deste trabalho.

Podemos salientar que Deus Pai foi quem “arquitetou” a criação – aquele que planejou todos os detalhes; Deus Filho foi quem “executou” o plano da criação – aquele que esteve presente trabalhando em todo o processo; e, finalmente, Deus Espírito Santo foi o “decorador” da criação – ou seja, poeticamente falando, aquele que “embelezou” os céus e a terra e tudo que nela há com a sua glória.

Portanto, a criação foi um trabalho da divindade, porém com diferentes tarefas realizadas por Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.

Todavia, na preparação do corpo humano de Jesus para a encarnação, não temos somente o ato do Espírito Santo, mas da divindade. Deus Pai e o próprio Deus Filho também cooperaram neste ato. Cada pessoa da trindade teve a sua participação.

Deus Pai foi quem planejou a encarnação e providenciou todo o material do corpo humano de Jesus, como a criação de sua alma humana e todas as suas vocações. Deus filho foi quem coordenou o trabalho de sua encarnação; e Deus Espírito Santo foi quem concluiu e manifestou este ato divino, a saber, o Deus Filho “encarnado”, o Deus-homem ao mundo.

O Espírito foi o autor da concepção de Jesus no ventre de Maria (Mt 1.18). A concepção da natureza humana de Cristo no útero de Maria foi um ato miraculoso do Espírito Santo (Lc 1.35).

2. Os elementos que constituem a pessoa de Cristo

a) A sua natureza humana

Os teólogos de Westminster acentuaram a substância humana que Jesus herdou de Maria, a qual é o fundamento psico-somático de sua verdadeira natureza humana. Sendo assim, o Catecismo Maior de Westminster enfatiza os dois elementos constituintes da natureza humana de Cristo – o seu corpo e a sua alma, da seguinte maneira:

Cristo, o Filho de Deus, fez-se homem tomando para si um verdadeiro corpo e uma alma racional, sendo concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre da Virgem Maria, da sua substância e nascido dela, mas sem pecado” (P.37).

 Donald Macleod escreve cientificamente acerca da verdadeira humanidade de Cristo Jesus, porém em uma linguagem elucidativa e acessível. Ele ressalta:

“Através do cordão umbilical [que ligava Maria ao ente santo que estava nela] ele é este homem específico, o filho dessa mulher específica, o portador de toda a história genética prévia do seu povo e o recipiente de inumeráveis aspectos hereditários. Ele era o genótipo singular exatamente porque ela contribuiu ao menos com metade dos seus cromossomos (como qualquer mãe humana faria). Como o restante apareceu, permanece um mistério. A única certeza é que Maria não poderia sozinha contribuir com o cromossomo Y que determina o sexo, que é sempre proporcionado pelo pai biológico. Esse cromossomo, ao menos, deve ter sido proporcionado de maneira miraculosa; e permanece possível que todos os cromossomos normalmente derivados do pai tenham sido providenciados dessa maneira, [sendo] o ato divino que fertilizou o óvulo simultaneamente criou vinte e três cromossomos complementares àqueles derivados da mãe”.[1]

 Esta substância humana que Jesus herdou de Maria possui duas partes – uma material e outra imaterial. A primeira parte é o que podemos chamar de um corpo verdadeiro, e a segunda parte seria a alma [ou espírito] racional. Portanto, estes dois elementos constituem a natureza humana de Cristo, o nosso redentor.

Todavia, a concepção de Cristo está vinculada com o fato de Maria ser virgem e não ter mantido relacionamento sexual com José até que ele nascesse (Mt 1.25). Desse modo, a unipersonalidade do Deus Filho só pôde acontecer através da concepção virginal.

Se houvesse a fecundação de um homem no ventre de Maria, certamente nasceria uma pessoa humana, e Jesus acabaria possuindo esta pessoa na encarnação. Assim, teríamos um Redentor com dupla personalidade.

Quando um ser é concebido, uma pessoa vem à existência. Entretanto, quando a pessoa de Cristo, que sempre existiu, compartilha da nossa humanidade, ele adota uma natureza humana tornando-se, assim, não um ser bi-pessoal, mas um ser unipessoal.

Não temos duas pessoas em Jesus, uma humana e outra divina, mas uma pessoa com duas naturezas – uma divina e outra humana. Na concepção de Jesus, uma nova pessoa não veio a existir, como vemos em outros nascimentos; antes, como Deus que é e que sempre existiu, ele uniu-se a uma natureza humana.

A encarnação do Verbo através de uma mulher virgem é que tornou possível o nascimento deste ser que é unipessoal, e não bi-pessoal. Se o Deus Filho possuísse um ser humano gerado de pais humanos, haveria, então, dois seres dentro de Maria – um divino e um humano.

No entanto, foi através da atuação do Espírito Santo em uma mulher virgem que produziu um Redentor sem pecado e unipessoal, possuindo uma natureza divina que procedeu da segunda pessoa da Trindade, e uma natureza humana que procedeu de sua mãe biológica, Maria.

Com isso, entendemos que “não haveria a possibilidade de haver um Redentor com duas naturezas numa só Pessoa (a do Verbo divino) sem a intervenção sobrenatural do Espírito Santo em Maria causando a unio personalis”.[3]

Por outro lado, a ideia herética de que Jesus não possuía um corpo humano sempre esteve presente na história da igreja. Desde os primeiros séculos, a teologia cristã foi bastante influenciada pelo pensamento grego de que a matéria é inerentemente má e inferior ao espírito.

De acordo com este pensamento, se Jesus tivesse um corpo humano, ele poderia estar ligado ao pecado. Logo, ao querer preservar a divindade de Cristo do pecado, as ramificações que cometeram as heresias cristológicas, como o gnosticismo, docetismo, ebionismo, apolinarismo e o arianismo, acabaram negando a sua humanidade plena e verdadeira; ou seja, que Jesus possuía tanto um corpo humano quanto uma alma humana (veja Cl 2.9; 1Jo 1.1; 4.1-3; Lc 24.39; Jo 20.27).

Portanto, os reformadores tiveram o cuidado de ensinar a cristologia correta em seus epítomes teológicos, especialmente quando refutaram alguns anabatistas com ideias docéticas [4] no século 16.

Tendo observado algumas informações sobre a natureza humana do Deus Filho e a sua encarnação, acredito ser de vital importância esboçar alguns exemplos na Escritura que ratificam a sua humanidade. Vejamos:

i. JESUS SENTIA CANSAÇO João 4.6 – “Havia ali o poço de Jacó. Jesus, cansado da viagem, sentou-se à beira do poço. Isto se deu por volta do meio-dia.” (NVI)

Conforme é relatado por João, após uma viagem sob o sol causticante do meio dia, Jesus, cansado, senta-se à beira de um poço de água para descansar. As viagens que Jesus fazia exigiam bastante esforço físico. Ele não poderia beneficiar-se dos confortos da sociedade moderna de sua época e viajar à cavalo ou em carruagens.

Ele não tinha dinheiro para um conforto dessa natureza, que, por sinal, só as pessoas bem sucedidas financeiramente poderiam usufruir. As viagens evangelísticas de Jesus e dos discípulos eram feitas a pé.

Embora Jesus fosse verdadeiramente Deus, todavia, ele também era verdadeiramente homem e se cansava sempre que se esforçava fisicamente em alguma atividade quotidiana. Jesus era passível de limitações referente ao vigor físico, por isso ele precisava de descanso para se recompor. Vejamos o que diz o outro texto em pauta: Marcus 4.35-38a – Naquele dia, ao anoitecer, disse ele aos seus discípulos: Vamos atravessar para o outro lado. Deixando a multidão, eles o levaram no barco, assim como estava. Outros barcos também o acompanhavam. Levantou-se um forte vendaval, e as ondas se lançavam sobre o barco, de forma que este foi se enchendo de água. Jesus estava na popa, dormindo com a cabeça sobre um travesseiro.” (NVI)

Após um dia extenuado de trabalho ensinando, pregando, curando e operando milagres, Jesus, no barco mesmo, longe das multidões, aproveitou a noite, que era praticamente o único período que tinha para dormir e descansar. Por assumir na sua encarnação os atributos que pertencem à natureza humana, Jesus também precisava dormir. O cansaço não é produto do seu estado de humilhação, mas de sua limitação como homem que era.

ii. JESUS TINHA SEDE

João 4.7 – Então veio uma mulher samaritana tirar água. E Jesus lhe disse: Dá-me um pouco de água.” (Almeida Século 21)

Depois de um longo período de caminhada pelas estradas poeirentas da Galiléia, debaixo do sol escaldante do meio dia, Jesus senta-se à beira de um poço para descansar da viagem. Em seguida, uma mulher aparece para tirar água do poço e, vendo a mulher, Jesus diz: Dá-me um pouco de água.

A sede é o resultado natural e direto do cansaço provocado por alguma atividade física intensa no qual o corpo se expôs. Nesse caso, Jesus sentiu sede porque havia viajado a pé com seus discípulos por longas horas em estradas poeirentas sobre um calor descomunal.

Quando o corpo é exposto a grandes esforços, ele precisa dessedentar-se. A água é a mais importante substância que o homem ingere para continuar a viver. O ser humano pode ficar um tempo maior sem comer, mas não sem beber. A sede não é simplesmente o produto do cansaço; a água é necessária para a manutenção do nosso corpo. Deus nos fez com essa característica que aponta para a nossa limitação.[4]

Mesmo no estado de glorificação, nós, seres humanos, teremos sede. A sede é algo típico que pertence a seres finitos que carecem de subsistência. Quando a terra for restaurada por Deus, as mesmas coisas estabelecidas por Ele no Éden antes da queda serão trazidas de volta, fazendo, assim, parte do nosso quotidiano. Iremos comer e beber como já fazemos aqui neste mundo.

iii. JESUS SENTIA FOME

Mateus 4.2 – E depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome.” (ARA) A fome é um sintoma fisiológico pelo qual o corpo percebe que necessita de alimento para manter-se vivo. “Todos os movimentos dos nossos órgãos, sejam eles voluntários ou involuntários, gastam energia e, consequentemente, exigem alimento para que a energia gasta seja reposta. O gasto de energia tem de ser reposto somente em seres com a natureza finita”.[5] Indelevelmente, Jesus, além de sentir sede, também sentia fome porque possuía uma natureza humana que é finita. Após permanecer em jejum durante quarenta dias, mesmo não fazendo nenhum tipo de exercício físico que exigisse muito esforço de sua parte, é bem provável que Jesus houvesse perdido quase todas as suas forças.

Os próprios movimentos dos órgãos interiores (que geralmente executam movimentos involuntários, como o batimento do coração, o esforço do músculo diafragma ao encher os pulmões de ar, e outros) consumiam a energia do nosso Redentor. Some-se a isso o movimento dos membros exteriores (como braços, pernas etc.) que são voluntários; sem dúvida, a energia que se gasta todos os dias para a subsistência do corpo humano requer uma boa alimentação.[6] À semelhança de Jesus, Moisés também ficou quarenta dias e quarenta noites sem comer e sem beber água no monte Horebe (Ex 34.28). Elias também caminhou quarenta dias sem comer e sem beber água até o mesmo monte (1Rs 19.8). Contudo, entendemos que no deserto Jesus não precisou do suporte da natureza divina para resistir os quarenta dias e quarenta noites sem comer. Moisés e Elias também ficaram este período sem comer e, especialmente, sem beber água, que, segundo a medicina, são fatos raros de acontecer e que depende muito da resistência de cada um, pois geralmente o corpo humano suporta a falta de água por cerca de 5 dias. Após este período, podem ocorrer graves problemas de saúde que podem levar a pessoa ao óbito. No entanto, Jesus, Moisés e Elias certamente receberam algum auxílio divino para suportar ficar sem comer e beber durante 40 dias. Portanto, Jesus sentiu fome após um período significativo de abstinência de alimento, o que é absolutamente normal, pois ele possuía limitações como qualquer outro ser humano possui.

iiii. JESUS É LIMITADO PELO ESPAÇO

Todo ser corpóreo está limitado a um espaço e não pode fugir ou se locomover dele para outro espaço ao mesmo tempo. Se Jesus fosse somente divino, ele, então, não seria limitado pelo espaço, porque antes de o espaço vir a existir ele já existia.

Quando o verbo, que é Jesus, se encarnou assumindo a natureza humana, tivemos um Redentor não divino e humano, mas um Redentor divino-humano. A natureza humana de Jesus possui um corpo e um espírito humano com características próprias de um ser finito.

Tanto a natureza divina quanto a natureza humana de Cristo, depois de unidas pela encarnação, ocupam espaço de forma limitada como é próprio de seres finitos. Embora a natureza humana de Jesus possa ter adquirido certas propriedades que desconhecemos, todavia, ela ainda se movia no espaço.

Jesus se deslocava de um lugar para outro. É por causa disso que ele não somente aparecia como também desaparecia. Podemos chamar este fato de deslocamento espacial (veja Jo 20.26).

É absolutamente natural e próprio de seres finitos moverem-se no espaço. Os seres espirituais como anjos ou demônios, por exemplo, também se locomovem no espaço porque não possuem o atributo de onipresença, isto é, a capacidade de estar em todos os lugares ao mesmo tempo.

Deus não é limitado nem tampouco encerrado pelo espaço. Ele, como um espírito infinito, é o único que possui esta capacidade de estar em todos os lugares ao mesmo tempo com todo o seu ser.

No caso de Jesus, ele não é somente Deus, mas também é homem. Sendo assim, ele estará para sempre limitado pelo espaço conforme a sua natureza humana que está localizada no céu à direita do Pai.

O céu, apesar de ser um lugar invisível e imaterial onde seres espirituais e intangíveis habitam, é também um lugar físico porque Jesus está presente lá com a sua natureza humana, e a sua natureza divina presente em todos os lugares do espaço.

b) A sua alma racional

O corpo não perfaz a natureza humana. Por isso era imprescindível que Jesus tivesse uma natureza humana completa. Visto que era verdadeiramente humano, ele também possuía uma alma, que é a parte imaterial do homem.

A expressão alma racional revela certa apreensão apologética dos teólogos que formularam a Confissão de Fé de Westminster, a qual combate equívocos teológicos e heresias antigas ainda presentes na mente de muitos cristãos com relação à pessoa de Cristo Jesus, o redentor dos eleitos de Deus. Por isso, os teólogos de Westminster inseriram na Confissão de Fé a expressão alma racional para designá-la como parte essencial da natureza humana do Deus Filho encarnado.

A alma humana é constituída de algumas propriedades que também havia na alma de Jesus Cristo. Senão vejamos:

i. Ele possuía uma mente humana

Jesus possuía uma mente como a de qualquer outro homem. “Sua mente possuía percepção, lógica, desenvolvimento de ideias e assimilação de conceitos e informações”.[7] Conforme é dito em Lucas 2.52a sobre a infância de Jesus, ele crescia em sabedoria.

Este texto não descreve um fato pertencente à natureza divina de Jesus – a sua mente divina, mas a sua natureza humana, ou seja, faz referência a sua mente humana. A mente divina não precisa se desenvolver em sabedoria; antes, Lucas relata que a mente humana de Jesus crescia gradativamente à medida que recebia informações e observava o que estava acontecendo na vida cotidiana.

Não obstante, um fato interessante que merece ser destacado é que a mente humana de Jesus não podia conhecer o que era exclusivo da mente divina. Vejamos um exemplo disso na Escritura:

Marcos 13.32 – Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos do céu, nem o Filho, senão somente o Pai. (ARA)

Por razões que não foram reveladas na Escritura, a mente divina do Deus Filho encarnado não revelou à sua mente humana [pelo menos até aquele período do seu estado de humilhação] a data da sua segunda vinda ao mundo. A mente humana de Jesus não era onisciente como é a mente divina.

A mente humana de Jesus não era capacitada a conhecer eventos futuros como a mente divina conhecia, exceto se a mente humana recebesse algum tipo de informação da mente divina, ou algum tipo de auxílio através de uma ação do Espírito Santo nela.

Um exemplo de que a mente divina revelou a mente humana de Cristo um fato pode ser visto no caso de Natanael, um dos apóstolos. Antes que ele se aproximasse de Jesus para o conhece-lo pessoalmente, ele já sabia como era o caráter de Natanael (Jo 1.47).

A mente divina, que sabe e perscruta todas as coisas, e que integrava a personalidade de Cristo, reproduziu informações pertencentes ao caráter de Natanael à mente humana. Estas informações, por sua vez, foram comunicadas aos outros discípulos que estavam perto dele.

Outro exemplo é o evento da grande pesca realizada pelos apóstolos quando ainda eram discípulos de Jesus e exerciam a profissão de pescadores. Lucas relata que Jesus sabia que, se eles lançassem a rede numa determinada parte do lago, haveriam de colher muitos peixes. Jesus sabia o lugar exato em que se encontrava o cardume. Como pescadores experientes que eram os apóstolos não conseguiram detectar a localização dos peixes (Lc 5.1-7).

Esse conhecimento que Jesus teve é exclusivo da mente divina que foi transmitido à sua mente humana. Não é característico da mente humana esse tipo de conhecimento, porém, quando recebeu essa informação da mente divina, a mente humana de Cristo informou a localização exata do cardume nas profundezas das águas. Sem a revelação da mente divina, a mente humana jamais poderia descobrir este fato.

ii. Ele possuía emoções humanas

As emoções fazem parte da constituição da natureza humana. Não somente os homens, mas também Deus, os anjos e o próprio Jesus, como Deus homem que é sentia emoções. Senão vejamos:

1. Jesus esboçou ALEGRIA ao proferir as palavras descritas em João 15.11 e na oração sacerdotal, em João 17.13.

2. Jesus demonstrou ENCANTAMENTO pela fé que encontrou no centurião de Carfanaum, em Mateus 8.10.

3. Jesus teve COMPAIXÃO por um homem discriminado pela sociedade da época por ser leproso (Mc 1.40-41; veja outro exemplo similar em 6.34).

4. Jesus manifestou TRISTEZA ao ver Maria, sua família e os amigos chorando e lamentando pela morte de Lázaro (Jo 11.33-35).

iii. Ele possuía vontade humana

Mateus 26.39 – E, adiantando-se um pouco, prostou-se com o rosto em terra e orou: Meu Pai, se possível, afasta de mim este cálice, todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres. (Almeida Século 21)

Heber Carlos de Campos escreve:

Podemos ver perfeitamente duas vontades em questão: a divina e a humana, embora não na mesma pessoa. Lemos aqui que a divina é claramente a do Pai, enquanto que a outra vontade certamente é a vontade humana de Cristo. A vontade divina é a mesma nas três Pessoas da Trindade, porque todas elas possuem a mesma natureza divina. Todavia, somente o Filho encarnado possui a vontade humana, não as outras Pessoas da Trindade, porque a vontade humana se deve ao fato de ter ele assumido a natureza humana. Assim como as duas naturezas em Cristo pensam de modo diferente, sentem de modo diferente, também as volições são diferentes. Contudo, não há conflito na pessoa divino humana de Cristo. Sempre a vontade divina terá preeminência sobre a vontade humana, sendo esta última sempre submissa à primeira.[8]

 As duas vontades em Cristo eram distintas e inseparáveis, mas elas sempre estiveram em harmonia, pois a vontade humana era invariavelmente subordinada à vontade divina.

iiii. Ele possuía senso moral

Outra característica que faz parte da natureza humana, e que difere os homens dos animais, é o senso moral. Todos os homens – quer sejam cristãos ou não, possuem o mínimo de senso moral. Contudo, Jesus é enfatizado nas Escrituras por ter um senso moral absolutamente irrepreensível em virtude de sua total santidade.

Por Cristo ter seu senso moral qualificado pela sua santidade, seria peremptoriamente impossível Ele permanecer indiferente e sem ação ao se deparar com erros morais de outrem.

“O senso moral envolve, não obstante, a capacidade de julgar o que é certo do errado, mas essa capacidade se torna cada vez maior à medida que um ser racional é santificado. Jesus Cristo era santo em sua natureza humana, e por isso tinha a capacidade plena de fazer julgamentos absolutamente corretos”.[9] 

Finalmente, ao confrontar os pecados dos homens, Jesus esboçou algumas emoções. Vejamos apenas duas delas:

1. Jesus demonstrou IRA contra aqueles que estavam fazendo do templo, que era um lugar de adoração e culto a Deus naquela época, um comércio (Jo 2.15-17).

2. Jesus ficou INDIGNADO com a ausência de compaixão e amor pelo próximo por parte dos líderes religiosos hipócritas e legalistas em uma sinagoga, num dia de sábado, onde ele estava prestes a curar um homem com a mão ressequida (Mc 3.5).

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Notas:
[1] Donald Macleod. The Person of Christ, 1988, pág 162.
[2] O docetismo não é somente a negação total da humanidade de Cristo. Qualquer pensamento que negue a plenitude da humanidade de Cristo também é docetismo.
[3] Heber Carlos de Campos. As Duas Naturezas do Redentor, pág 430.
[4] Ibid, pág 495.
[5] Ibid, pág 496.
[6] Ibid.
[7] Ibid, pág 393.
[8] Heber Carlos de Campos. As Duas Naturezas do Redentor, pág 404.
[9] Ibid, pág 405-406

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Fonte: Bereianos